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Ideias

Os homens fazem a guerra
E as mulheres fazem renda
[Gregório de Matos]

Ande eu na Síria
ou me dane
em praça diversa do planeta
ou mesmo nade
onde quer que águas ondulem,
ideias me tomam
e isto
é uma possessão demoníaca,
mas sem demos de enxofre,
chifres,
ossos e carnes que possam morder
a minha vista.

Em roças ou raças,
ideias nos tomam: agora
isto é
uma dominação
bem democrática
em que há potencial para matanças
sempre em nome de bens
e males
mais do que apenas
pessoais
(as muitas humanias só
idiossincráticas).

Ideias capturam aldeias,
idem
com bairros, cidades, até
Sumérias inteiras
de neurônios
dentro de todas as cabeças
assim como
quilômetros e quilômetros
de demências
com terras, águas, ares, circun
stâncias.

Ideias tomam bastilhas,
aspirinas
e mesmo tomam banhos
mais o que couber no verbo
e ainda o que não for
do seu tamanho.

Com as suas cabeleiras
ou carecas,
ideias não tomam apenas:
além
de deixar hematomas,
matam,
sendo uma vez
cogumelos de fogo
e na véspera
desesperados kamikases.

O mais estranho
porém: ideias
também fazem pazes.

2

Em Sírias não ardam vocês
nem eu repise
um dia as minhas várias
Brasílias
sem estar ao menos algumas horas
bem desperto e livre
de ideias.

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© 2016 Lino Machado – Todos os direitos reservados ao autor. A reprodução sem prévia consulta e autorização configura violação à lei de direitos autorais, desrespeito à propriedade dos acervos e aos serviços de preparação para publicação.
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Lino Machado é poeta e professor universitário. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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