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II. Generalidades sobre o Espírito Santo: solo, clima, meios de transporte

O Espírito Santo, um dos menores estados brasileiros, cobre uma superfície de cerca de 45.000 quilômetros quadrados. É uma faixa costeira, situada entre os paralelos meridionais de 18º e 21º de aspecto preponderantemente montanhoso e onde a floresta predomina. Sua superfície, com 400 quilômetros de comprimento e 100 a 130 quilômetros de largura, corresponde, mais ou menos, à da Dinamarca ou à da Província de Hannover. Enquanto as cadeias de montanhas se elevam, ao sul, a altitudes de 1.200 a 1.400 metros, e vão decaindo à medida que se aproximam da costa, de maneira mais ou menos abrupta, as regiões setentrionais são, em parte, planas e pantanosas. Todo o estado é acentuadamente enrugado por vales, sulcados por numerosos rios e riachos, que se juntam para formar rios maiores (rio Doce, rio Santa Maria, rio Jucu).

Faltam observações meteorológicas exatas, sistemáticas, relativas a todo o território, abrangendo muitos anos. Não existem material cartográfico oficial, merecedor de confiança, anotações de altitudes, de meios de transporte etc. De modo geral, pode-se classificar o clima de subtropical, devendo-se distinguir entre a região alta, mais subtropical, da zona baixa, de caráter tropical mais acentuado (média anual, na região alta, 21 a 22ºC; na região baixa, alguns graus mais alta). Em correspondência com o aspecto montanhoso do estado, essa distinção se desfaz nas altitudes médias e mesmo nos vales, situados em níveis mais baixos, cercados pelas montanhas, de maneira que sem excluir mesmo a região baixa, não reina em geral, um clima puramente tropical, como na planície e nas faixas litorâneas dos trópicos.

Vitória, cuja entrada, em meio a uma baía pitoresca, cercada de rochedos graníticos e de ilhas, lembra o Rio, tem, como essa cidade, um clima costeiro bastante opressivo, na época de calor (dezembro a fevereiro). O solo, no Espírito Santo, presta-se ao cultivo de todos os produtos da zona subtropical (café, milho, cana de açúcar, algodão, laranja, banana, arroz, mandioca, batata, feijão, fumo, cocos etc.); muitos produtos da zona temperada dão bem nas partes mais altas. (Adiante tratar-se-á das peculiaridades da lavoura e da fertilidade do solo, na região alta e na baixa). O caráter montanhoso e o acentuado enrugamento do solo dificultam muito o transporte. Somente o rio Doce e o rio Santa Maria são navegáveis e, assim mesmo, em curto trecho, no curso inferior, por barcaças pequenas e canoas. Existe uma via férrea do Rio a Vitória (a chamada E. F. Leopoldina). De Vitória, em direção ao norte, acompanhando a costa e, depois, no sentido do oeste, através do vale do rio Doce, dirigindo-se para o estado de Minas Gerais, há a Estrada de Ferro Vitória a Minas. Encontram-se rodovias para o interior, ligando algumas localidades importantes. Mas, só dificilmente, automóveis e caminhões podem transitar nelas e, só em parte, são mantidas em condições. Após pesados aguaceiros, transformam-se em atoleiros completamente intransitáveis ou num lamaçal escorregadio, através dos quais os veículos só conseguem passar com indizíveis esforços. Há linhas de ônibus para o serviço postal e de passageiros, que, pelo menos, na época seca, funcionam com certa regularidade. O transporte no interior faz-se no lombo dos animais, nos cavalos, resistentes e muito úteis na região montanhosa, e nos muares (mestiços de jumento com égua, ainda mais frugais e mais tenazes, e capazes dos maiores esforços).

O café no interior, é também transportado, em regra, por muares (tropas), por caminhos estreitos, e pelas picadas rasgadas na floresta. Somente nos lugares em que o governo ou os particulares construíram estradas de algum modo transitáveis, transportam-se as mercadorias em caminhões. Vêem-se, raramente, bois ou cavalos ajoujados, puxando carros de madeira, de duas rodas.

[GIEMSA, Gustav, NAUCK, Ernst G. Uma viagem de estudos ao Espírito Santo: pesquisa demo-biológica, realizada, com o fim de contribuir para o estudo do problema da aclimação, numa população de origem alemã, estabelecida no Brasil Oriental. Trabalho publicado pela Universidade de Hanseática, Anais Geográficos (continuação dos Anais do Instituto Colonial de Hamburgo, vol. 48), série D, Medicina e Veterinária, vol. IV, Hamburgo, Friederichsen, De Gruyter & Co., 1939, traduzido para o português por Reginaldo Sant’Ana e publicado no Boletim Geográfico do Conselho Nacional de Geografia, n. 88, 89 e 90, 1950].

Gustav Giemsa nasceu na Alemanha a 20 de novembro de 1867 e faleceu a 10 de junho de 1948. Foi químico e bacteriologista e alcançou notoriedade pela criação uma solução de corante conhecida como “Giemsa”, empregada para o diagnóstico histopatológico da malária e outros parasitas, tais como Plasmodium, Trypanosoma e Chlamydia. Estudou Farmácia e mineralogia na Universidade de Leipzig, e Química e Bacteriologia na Universidade de Berlim. Entre 1895 e 1898 Giemsa atuou como farmacêutico na África Oriental Alemã. Em 1900 tornou-se chefe do Departamento de Química Institut für Tropenmedizin em Hamburgo.
Ernst G. Nauck nasceu em São Petersburgo, Alemanha, em 1867, e faleceu em Benidorm, Espanha, em 1967. Especialista em doenças tropicais. 

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