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M.G.C., professora, comerciante

Nasceu em Vitória, casou-se aos 19 anos, mudou-se para Araxá aos 21 e lá está há 24 anos. Professora, comerciante, 45 anos, visita Vitória eventualmente, por ocasião de férias ou período de Natal. (18.07.2004)

– Vitória mudou muito, pra melhor. Desde a hora em que a gente sai do aeroporto. O aeroporto mesmo é muito pequeno, mas as ruas são boas. Eu gosto mesmo é das praças. A praça dos Namorados, muito boa. Antigamente tinha a praça do Cauê, mas agora melhorou, mais urbanizado, mais organizado, policiamento, muitas flores, dá gosto. Dizem que Vitória não tem polícia, mas eu vejo muito, de bicicleta, a pé. Não vou muito ao Centro da cidade, mas lá parece que não mudou, os prédios são sujos… Por onde ando não vejo muito mendigo, nem na cidade. Só nos sinais. Eu acho a cidade bem limpa. O Centro da cidade é que não muda. Sempre a mesma coisa.

– Eu me sinto segura aqui. Nunca vi nada demais. Assalto, confusão. Apesar de não ir muito à praia aqui em Vitória, gosto da curva da Jurema, aqueles quiosques, muito organizado, a gente sente que o pessoal gosta. Turista eu não vejo muito. Engraçado, vejo pouco movimento de turista. Mesmo nos restaurantes, vejo mais o pessoal daqui. Infelizmente o que o pessoal de Minas reclama muito, esse pessoal que vem pra cá, reclama muito que o pessoal daqui não sabe receber os turistas, reclama muito das pessoas que são mal educadas, as pessoas são impacientes, nervosas. O que eu sinto é que o pessoal não sabe receber os turistas. A cidade é muito agitada, nervosa; não recebe bem. Eu que sou daqui, dá pra entender… Falta muita propaganda de Vitória lá fora. Eu vejo na televisão propaganda da Bahia, Salvador, Rio, Pernambuco… O que atrai mesmo são as praias. Na televisão a gente só vê Vitória por causa dos torneios esportivos, os esportes de praia. Só. Ou então quando os políticos estão na mídia, com as trapalhadas deles. Fora isso, não tem propaganda. O esporte é que manda. Agora também tem a Petrobras, que falam também de Vitória. E as coisas não são caras aqui. De onde venho tudo é mais caro. Aqui tem muitas opções, promoções, é só saber procurar. E tem a ponte. E o capixaba é bairrista. Gente de Vitória é de Vitória. O pessoal de lá é de lá.

– E o capixaba tem um pouco de racismo, sabia? O capixaba é racista, nos lugares públicos também… Aconteceu uma vez. Uma menina, negra, brincava com os meus filhos no parque, e o guarda chegou e pediu que ela se retirasse, aqui na Praça dos Namorados. E ele falou: “Me admiro a senhora, deixar essa menina brincar com os seus filhos.” A gente se retirou imediatamente. E o guarda era moreno, mulato mesmo.

– Não dá pra dizer se eu vejo mais jovem ou velho nas ruas. O pessoal daqui não anda na rua. Só se vê gente andando nos calçadões. A gente não vê muita gente na rua. Tudo de carro.

– O trânsito aqui é confuso, difícil, a cidade foi crescendo, mas não tinha pra onde. O trânsito é confuso. Acho que tem mais carro que gente. O motorista aqui não respeita muito o pedestre. Andar na rua chega a ser perigoso, atravessar a rua. Todos correm muito. Ninguém tem paciência no trânsito. Abriu o sinal e já ficam buzinando. Na minha cidade ninguém buzina, engraçado. Os ônibus, engraçado, são super bem conservados. Na minha época em que eu era estudante, não eram não. Ônibus novos, quase todos, e tem muito ônibus.

– As pessoas que moram aqui gostam muito daqui, mas Vitória deveria ser mais divulgada lá fora. A imagem que tem lá fora é que é uma cidade muito violenta, muito violenta. Em cursos, palestras, entrevistas, sempre observo que, quando se referem a Vitória, a imagem é de cidade violenta. Vitória é mal vista lá fora. Como outras cidades, onde tem também violência, eu sei que aqui acontece mais em determinados pontos, em favelas, como em outros lugares. Só que aqui, a cidade é mal vista. Quando eles lá fora sabem que a gente é daqui, sempre comentam: “Vitória é uma boa cidade, mas é muito violenta, muito violenta.” Numa palestra que a minha filha assistiu em Ribeirão Preto, na faculdade, o professor perguntou se havia alguém de Vitória. Ela se identificou e ele fez questão de ficar falando que Vitória é um caos. Ele mesmo veio aqui e não aconteceu nada com ele. São as estatísticas, eu acho. Duas colegas queriam fazer o mestrado aqui, mas desistiram. E se dependesse de meus pais, eu não viria nunca mais pra cá. Eles só falam de assaltos, mas eles nunca foram assaltados. Se fala muito. Deveria ser divulgado o lado bom. Afinal é uma capital. Dá pra se viver muito bem aqui.

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