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M.R.M., comerciária

52 anos, comerciária, residente no Rio de Janeiro, visita Vitória profissionalmente a cada 15 dias, já há três anos, hospedando-se na Praia do Canto e trabalhando no Centro, Enseada do Suá, Camburi e Vila Velha. (01.11.2008)

– Geralmente emendo de quinta a domingo quando venho a Vitória a serviço e aproveito para relaxar nessa cidade linda e, quando posso, fico um final de semana. O programa favorito é sempre um banho de mar despoluído, comer moqueca e passear no calçadão até o pôr-do-sol.

– Gosto muito do clima de descontração de beira de praia. Vitória tem praias lindas, na verdade próximas a ela, com um litoral meio virgem e ainda preservado da poluição se comparado com o Rio. Não tenho muita familiaridade com o Centro da cidade. Apesar de construções históricas, ele não tem grandes atrativos.  Acho que está meio abandonado, vê-se que a pobreza aumenta e com ela a violência.

– Vitória está crescendo a olhos vistos, o casario sendo substituído por prédios modernos; [está] bem suprida de serviços e comércio. A parte de hotelaria também cresceu muito, acho que mais em função do turismo executivo do que o de lazer mesmo. Esse crescimento está na Praia do Canto e nos novos bairros de Camburi, Nova Camburi e Mata da Praia. Não sinto falta de nenhum serviço, há agências de todos os bancos do país, shopping centers com filiais ou franquias de quase todas as lojas do eixo Rio – São Paulo, supermercados muito bem supridos. Com exceção do Centro que está espremido entre o mar e a montanha e com ruas estreitas e congestionadas, os bairros praianos têm ruas largas, bem sinalizadas. O motorista capixaba é bem educado e respeita o pedestre; é uma diferença bem grande da minha realidade carioca. Claro que há os horários de congestionamento, mas no final de semana é bem tranquilo. E poderia ser maior se o capixaba não fosse tão preguiçoso e andasse mais a pé. Ele tira o carro da garagem para ir à esquina! E vê-se o enriquecimento da população pela frota de utilitários e marcas de luxo nas ruas. O custo de vida em Vitória surpreende quem vem do Rio ou São Paulo, especialmente muito mais baixo na moradia, alimentação e serviços.  Mora-se e come-se melhor, por bem menos.

– A cidade é limpa; o povo educado no trânsito; vejo investimento na infra-estrutura da cidade. Vitória é uma cidade cuidada. Há um contraste grande quando falo da Praia do Canto e do Centro, que já disse me parece mal cuidado e pobre. Essa parte histórica, excetuando um ou outro casario como o Teatro Carlos Gomes, o Palácio Anchieta, a catedral, não está preservada.  As casas, prédios e lojas são simples, sem um estilo definido, nada que se diferencie de outras cidades brasileiras.

– O lugar mais bonito e que mais me impressiona é a vista do Convento da Penha e da Terceira Ponte. É uma beleza. Também gosto da entrada do porto vista da ponte.

– A violência daqui é como a das cidades grandes, mas nunca presenciei ou fui vítima. As notícias de jornal assustam e não são diferentes das do Rio ou São Paulo. O aumento da riqueza que trouxe várias melhorias e obras modernas paradoxalmente também fez crescer a miséria e o aumento da favelização. Sem falar nas drogas.  Elas estão tomando todos os morros da cidade. Triste isso.

– Acho o povo capixaba simpático, mas fechado. Ele vive em sua casa e não é de muito convívio social. Sinto muita diferença do clima carioca no qual as pessoas se falam e se comunicam mesmo sem nunca se terem visto.  No Rio se você pede uma informação, o papo engrena. Se você está caminhando e alguém emparelha sempre se puxa um papo. Essa facilidade de relacionamento não há com o capixaba que só se disponibiliza se houver uma apresentação prévia ou indicação. O capixaba médio é doméstico. Tanto que não há quase vida noturna nem cultural em Vitória. Até os restaurantes fecham cedo e muitos nem abrem no final de semana. Se não fossem os shoppings, acho que nem cinema abriria. Essa é a carência mais flagrante que vejo. O capixaba não prestigia as poucas casas de espetáculo que existem e elas acabam fechando. E olha que é um povo musical e berço de muitos talentos. Não vejo muitas iniciativas públicas de proporcionar shows gratuitos ao ar livre como há no Rio quase semanalmente. A noite em Vitória é dominada pela juventude que lota as poucas boates e enche os bares, como em quase todo lugar. O turista em Vitória tem a natureza e bons hotéis, mas não há a preocupação de explorar a vida noturna.  De noite a cidade realmente dorme. Acho Vitória uma cidade do dia e, se possível, com sol. Sinto falta de atrativos culturais como teatro e shows. Acho que Vitória dorme cedo. Tudo fecha cedo: restaurantes, bares. Como disse, o capixaba curte a sua casa, não tem tradição de boemia, o que faz a cidade muito triste à noite principalmente nos finais de semana.

– Notei que o capixaba come com fartura, come de tudo.  O capixaba prestigia a culinária local que é deliciosa, mas tem restaurantes com várias especialidades: a italiana, a japonesa, a árabe.  Vejo em Vitória a facilidade de se obter hortaliças, frutas e peixes frescos e baratos. Há muitas feiras-livres com produtos orgânicos. Elas estão sempre movimentadas porque o capixaba gosta de cozinhar sua comida. E o faz muito bem. As cozinhas das casas e dos apartamentos são amplas. Fico também impressionada com as padarias. Elas competem entre si com várias opções de pães, doces e bolos. É uma tentação entrar em qualquer delas.

– Acho que esportes náuticos, vela, surf predominam em Vitória. A festa popular que conheço é a Festa da Penha. Há também a festa de São Benedito e a dança do congo. Mas há iniciativas como a Caminhada de Anchieta que já fiz duas vezes e é muito bem organizada e acaba sendo mais um congraçamento interestadual ou mesmo internacional, pois tem participantes de vários lugares numa caminhada pelo litoral de cunho esportivo-cultural.

– Eu moraria em Vitória, sim. A cidade me atrai pela qualidade de vida e ainda se pode morar e comer por bem menos do que outros centros.  O custo de vida ainda é atrativo. Mas iria ao Rio ou São Paulo de tempos em tempos. Creio que a tendência é a cidade se tornar mais cosmopolita devido à chegada de novas empresas à cidade. Já há um fluxo de técnicos e executivos de todo o país se transferindo para Vitória. Isso certamente vai criar novos hábitos e Vitória pode, infelizmente, perder a qualidade de vida que ainda tem hoje.

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