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New York, 1949 ou Os condenados

Ponha-se na ante-sala deste texto a tabuleta de uma epígrafe, transcrita em fonte de impacto por se tratar de referência especialíssima:

Nenhuma matéria senão a fortemente dramática me interessa. A miséria humana, a degradação social, as estranhezas, os caminhos perpendiculares, eis aí a minha matéria, trabalhada com certo prazer risonho: se o que escrevo não possuir certa dose de humor negro que talvez só eu entenda, não me serve. (Pedro J. Nunes, in Depoimento para o site Estação Capixaba)

Posto isto, como diria o professor Bicalho, vamos ao texto.

Quando as fustigantes asas da inspiração tocavam os ombros de Pedro, começava o seu tormento de escritor. Como no caso das bruxas, Pedro costumava negar-lhe existência (à inspiração) mas, no fundo, no fundo, sabia que ela existia.

Era a velha história de 1% de inspiração e 99% de transpiração quando começava a escrever. Ele mesmo já havia dito alhures que as idéias me aparecem da maneira mais engraçada — ou é um sonho, ou um fato que leio nos jornais, ou uma coisa que percebi de repente — embora também alhures já tivesse ressalvado que escrever não é elegante, é preciso transpirar.

Mas com ele (ou com todos?) aquele 1% se infiltrava em seu espírito como um filhote de taruíra que acabava virando um crocodilo de olhos fosforescentes. E aqui, que é o caso de Pedro, a fosforescência desses olhos crocodilescos dá a medida da dependência em que nosso escrivão passava a viver o seu tormento.

Daí em diante, durante dias, semanas ou séculos, o cotidiano de Pedro perdia sentido, tornava-se um fardo e um empecilho ao seu processo criativo. Nada tinha a importância de antes: casa, família, leituras, trabalho, processos e interrogatórios, interrogatórios e flagrantes-delitos, o delegado Digital e toda a sua delegacia na Chapot Presvot, 272 — tudo transformava-se em pano de fundo, em névoa de terceiríssimo plano, no dia-a-dia de Pedro.

O que passava a ter valor, a ter vida, a ser a vida era o seu tormento literário, o transe criativo em que mergulhava sob o patrocínio de uma xícara de chocolate quente, se é inverno, ou de uma torrente de chás de ervas aromáticas, sorvidos gelados em chávena de porcelana, se era verão. E cigarros, muitos cigarros, mancheias de cigarros que completavam os insumos com que Pedro alimentava a sua lagartixa, encarando o terrível crocodilo de olhos fosforescentes que o ameaçava devorar.

Pois estava Pedro em doloroso sofrimento literário. E foram duas as fagulhas que desencadearam a ebulição criativa no espírito do escrivão da Chapot Presvot, 272: 1) a leitura que acabara de fazer do romance O Condenado (cite-se a obra bibliograficamente, como fazia Renato Pacheco: Greene, Graham. Globo: São Paulo, 2003); 2) a navegação que Pedro fizera no site da Estação Capixaba (onde também tem domicílio) e onde deu de olhos com a entrevista do escritor Reinaldo, falando do seu processo de criação literária.

Nessa entrevista, dada a um clube de distintas lacanianas de Vitória (Pedro esperava chegar lá um dia), R resgatou as primeiras frases de um romance inacabado de adolescente, quando então não passava de um r que desabrochava para as letras, um r minúsculo que botava pentelhos pelo púbis em floração literária:

New York. 1949. Os perigosos delinqüentes juvenis amedrontavam a maravilhosa cidade. Vamos encontrar um bando precisando de chefe, quando um rapaz carrancudo, com um cigarro, camisa axadrezada e calça cáqui, chega e fala roucamente: “Aqui está o seu chefe.”

Aquelas frases simples, concisas, nem oblíquas, nem perpendiculares, mas diretas, que podiam ter pertencido a um romance do gênero policial, funcionaram como uma mordedura no espírito de Pedro, o clique de um estalo (genial?), o cloque do tormento em que mergulhou.

E uma idéia lhe bateu à caixa preta das idéias: Por que não fazer correr entre seus amigos escritores que se reuniam aos sábados, na Livraria Logos, as linhas de abertura do romance infanto-juvenil inacabado de r, para que todos eles, os amigos escritores de Pedro, incluindo R, escrevessem contos a partir daquele mote?

Pedro já fizera antes uma experiência desse tipo com os mesmos amigos escritores, quando lhes sugerira que cada qual escrevesse uma história erótica (mas nem tanto) sobre o tema mulheres, o que cada qual acabou fazendo, dando no livro Mulheres, diversa caligrafia (que outro título poderia ter?).

Aquela experiência empolgara tanto a Pedro que fez baixar de suas altas esferas austrais um seu heterônimo desenhista, Armando Costa, que ilustrou a capa do Mulheres.

Tratava-se, pois (cogitava Pedro), de repetir a experiência com a livresca turma dos sábados, desta vez, porém, com pé de apoio nas frases inaugurais do romance infanto-juvenil inacabado de R.

Mas, tal como lhe acudiu a idéia ao espírito, tal lhe acudiu ao espírito o receio de que não fosse ela bem recebida pelos seus amigos (Mulheres revelou-se um indecoroso encalhe de livraria).

Então, para não botar mais ninguém em fria, resolveu ele próprio arregaçar as mangas (metaforicamente falando, porque Pedro usa camisas de mangas curtas) e apenas ele, ele e sua solidão inventiva, ele no seu tormento criativo, enfrentar o crocodilo de olhos fosforescentes que o galvanizava.

E a mim, cronista voyeur e diseur da delegacia da Chapot Presvot, onde Pedro cumpre circunspectamente a sua nobre função pública de escrivão de polícia, cabe divulgar o seu conto, cujas origens venho de expor e cujo texto passo a imprimir (Pedro escreve originariamente a lápis).

“New York. 1949. Os perigosos delinqüentes juvenis amedrontavam a maravilhosa cidade. Vamos encontrar um bando precisando de chefe, quando um rapaz carrancudo, com um cigarro, camisa axadrezada e calça cáqui, chega e fala roucamente: ‘Aqui está o seu chefe.’

Não se tratava de uma indicação pessoal, mas de uma imposição que não admitia contestações. O rapaz carrancudo, de cigarro à boca, sabia que tinha de ser incisivo, para conseguir a aceitação dos delinqüentes juvenis de New York. Não era uma questão de pegar ou largar o indicado para chefe, mas de fazer com que a indicação fosse acatada de forma incontroversa. Afinal, tratava-se de um bando de perigosos delinqüentes que tinha ficado temporariamente acéfalo, e um bando daquele quilate, ainda que de quilate negativo, não podia permanecer em indefinida acefalia.

Para isso, a surpresa da indicação de quem era indicado chefe tornava-se fundamental. E o rapaz da calça cáqui e camisa axadrezada tirava partido da sua voz roufenha para acentuar o impacto do anúncio. Quanto menos hesitações houvesse, da parte dos perigosos delinqüentes que amedrontavam New York, mais possibilidade havia de prevalecer a indicação feita pela voz rouca do rapaz de camisa axadrezada e calça cáqui.

‘Aqui está o seu chefe,’ repetiu ele de forma ainda mais categórica.

‘O chefe que faltava,’ disse um dos delinqüentes juvenis, falando por falar e cuspindo para o lado por cuspir, mas sobretudo para que esta narrativa possa ir em frente.

‘O nosso chefe,’ completou o rapaz carrancudo, mais carrancudo ainda porque seu cigarro tinha virado guimba e era um baseado que ele teve de atirar fora a contragosto.

A guimba descreveu um semicírculo descendente e foi se acomodar no chão negro e sujo do beco do Harlem porque os perigosos delinqüentes, agora se esclareça, estavam reunidos num beco sórdido, escuro e apertado dessa parte da maravilhosa cidade de New York.

‘Não quero ser chefe,’ retrucou, porém, quem tinha sido indicado chefe. ‘Prefiro ser chefiado.’

O instante de espanto que se seguiu foi logo preenchido pela voz roufenha de quem fizera a indicação do chefe que não queria ser chefe:

‘Algum problema psicológico com seu pai? Só pode ser algum problema psicológico com seu pai,’ disse, agressivamente, o indicador para o indicado.

‘Nenhum problema com meu pai porque não tive pai. Se não tive pai não tenho esta espécie de problema psicológico,’ volveu o que não queria ser chefe. ‘Simplesmente, prefiro ser pau-mandado do que [sic] ser manda-chuva. Acho que foi porque me acostumei às ordens que minha mãe me dava, acompanhadas de vários cocurutos.’

‘Então o problema psicológico é com sua mãe,’ concluiu brilhantemente o rapaz carrancudo da voz rouca. Sempre que o assunto era mãe, ele pensava na sua e não tinha razão para se sentir à vontade com as lembranças filiais.

‘Até que pode ser,’ reconheceu quem não queria ser chefe, ‘mas se for com mamãe, pouco me importa.’

‘Mamãe? Ele disse mamãe?’ grunhiu um dos delinqüentes juvenis que até então se mantivera calado e que tinha se curvado para pegar a guimba do baseado jogada fora pelo rapaz da voz rouca e camisa axadrezada. E sentenciou, com a cara quase colada no asfalto pegajoso e negro: ‘Quem se refere à mãe como mamãe não pode realmente ser chefe de delinqüentes juvenis em New York.’

‘É preciso ir com calma,’ interveio o rapaz carrancudo da voz roufenha. ‘Não é pelo fato de chamar a mãe de mamãe que um sujeito não pode ser chefe de um bando de delinqüentes nesta maravilhosa cidade. Até porque este cara que chama a mãe de mamãe, e que eu estou indicando para chefe, é um matricida.’

‘O que é um matricida?’ perguntou outro integrante do bando juvenil depois de dar uma puxada na guimba do baseado que havia recebido do delinqüente que a tinha recolhido do chão, esforçando-se para tirar dela um derradeiro sarro.

‘É quem mata a própria mãe,’ respondeu o matricida com o orgulho filial posto à prova.

‘É quem mata a mãe, embora a chame de mamãe,’ reforçou o rapaz carrancudo de camisa de xadrez esperando que sua frase de efeito causasse o efeito desejado nos perigosos delinqüentes juvenis de New York.

‘Pois se fosse eu que tivesse matado minha mãe, nunca a chamaria de mamãe,’ disse um quarto delinqüente sentando sobre um latão de lixo, no beco escuro e sórdido da maravilhosa N.Y.

‘É preciso muita coragem e muito desprendimento para matar a própria mãe,’ replicou o matricida. ‘É uma experiência que não desejo ao meu pior inimigo.’

‘Voltemos à vaca fria!’ vociferou a voz rouca do rapaz da camisa axadrezada. ‘O que nos interessa aqui não é ficar falando de mamãe pra lá e mamãe pra cá, mas escolher um chefe à altura deste bando juvenil.’

‘Já que você insiste na questão, por que não assume logo esta merda de chefia?’ perguntou um quinto delinqüente, soltando no ar pesado e mal cheiroso da cidade de New York a frase que o rapaz carrancudo desejara ouvir desde que se achegara ao grupo acéfalo e iniciara toda aquela conversa mole.

‘Este bando de perigosos delinqüentes não está precisando de chefe, está precisando de creche,’ disse alguém que se aproximou inesperadamente, no exato momento em que o bando já se dispunha a aceitar como chefe o rapaz de calça cáqui e voz rascante.

‘Há quanto tempo você está bisbilhotando nossa conversa?’ inquiriu, irritada, a voz rascante.

‘Há meia hora estou nas sombras deste beco fétido da maravilhosa cidade de New York, ouvindo o papo-furado de vocês, antes de meter o bedelho onde não fui chamado, mas onde o meu bedelho pode ser de grande utilidade,’ respondeu o bisbilhoteiro.

‘E quem é você, bedelhudo?’ voltou a perguntar o rapaz da calça cáqui e voz rouquenha que já se considerava chefe coroado do bando que até poucos instantes estava acéfalo.

‘Meu nome é Dick, e pretendo ser o chefe desta turma,’ disse o perguntado, respondendo de dentro de um paletó largo e surrado que não escondia seus ombros estreitos, o peito cavado, e ainda apequenava a sua figura.

‘Dick é um nome que não combina com você,’ contraveio o rapaz da voz roufenha que só então viu, na penumbra do beco, a cicatriz medonha e repulsiva que talhava a face do recém-chegado.

‘Então pode me chamar de Garoto; é como todos me chamam,’ propôs Dick, cravando no outro seus olhos frios e cinzentos.

‘Entre Garoto e Dick não sei o que é o pior,’ replicou o rapaz da camisa axadrezada. ‘Talvez Dedo Mindinho fosse mais adequado, embora continue achando Dick nome de cachorro’ [diga-se, a bem da biografia de Pedro que, apesar de no romance O Condenado o nome do Garoto ser Pinkie, Pedro preferiu Dedo Mindinho porque se lembrou de que dissera, no depoimento à Estação Capixaba, que é perigoso na intertextualidade deixar que o texto do outro mande no seu.]

‘Eu não conheço nenhum país no mundo onde Dick é nome de cachorro,’ rebateu Dedo Mindinho enquanto pensava, tenho vontade de retalhar toda essa maldita cambada [vide o romance de GG].

‘No Rio de Janeiro Dick é nome de cachorro,’ atiçou novamente o rapaz da camisa axadrezada.

‘O Rio de Janeiro não é país, é a capital da Argentina,’ protestou o Garoto, repetindo um erro generalizado nos Estados Unidos, em 1949.

‘Estamos assistindo a uma disputa de chefia,’ disse, esfregando as mãos, outro jovem delinqüente do beco do Harlem (o bando era numeroso).

‘Deus nos livre de entrar nesta guerra,’ declarou o delinqüente sentado no latão de lixo, dando com o calcanhar na lateral do trono improvisado e fazendo ecoar um estrondo que ricocheteou pela atmosfera fétida do beco escuro e sórdido da maravilhosa New York.

‘Não metam Deus nesta disputa. Ele é indiferente demais para entrar no Harlem,’ gritou o Garoto, que vivia em permanente crise pessoal com a Fé. [Este é o fadário de muitos personagens de Graham Greene, escritor católico que Pedro, escritor converso, sentiu a obrigação de encaixar no conto.]

‘Continuo a dizer que Dick é nome de cachorro, seja na Argentina, seja no Rio de Janeiro,’ insistiu, desafiador, o rapaz da voz roufenha e calça cáqui.

Um suor frio porejou a testa do Garoto. Era intolerável que alguém, naquele bando de delinqüentes mal saídos dos cueiros, ousasse contestá-lo, logo a ele, que tinha um passado de navalhadas pelas costas (e pela face), logo a ele, que emergira das sombras do beco sórdido e escuro do Harlem para se doar como chefe a uma corja de delinqüentes juvenis acéfalos. Aquilo o irritava profundamente porque ele se considerava um ser superior, suas ambições não tinham limite e nada devia expô-lo às zombarias das pessoas [idem, ibidem]. Tudo o que feria seu orgulho e o expunha à humilhação merecia dele uma reparação exemplar. Não ia ser diferente ali.

‘Fiu, fiu, fiu,’ assoviou o rapaz da voz roufenha, estalando os dedos como se chamasse um cachorro. ‘Vem cá, Dick, vem cá!’ — e Dick (ou Dedo Mindinho ou o Garoto) viu o riso debochado dominar a boca de dentes podres do assoviador.

Aquele assovio provocativo era como um caça-níqueis: a gente põe uma moeda e as luzes se acendem, as portas abrem-se e os bonecos se movem numa sucessão de atos disparados por um mecanismo automático e incontrolável. E o mecanismo se soltara no beco sórdido da maravilhosa New York.

O rosto do Garoto adquiriu uma expressão mórbida, a cicatriz se acentuou como um crivo a carvão. Dentro do bolso largo, do largo paletó surrado, seus dedos, de unhas roídas e sebosas, tocaram o frasco de vitríolo e a navalha, optando pelo vitríolo, a arma predileta da sua perversidade insubmissa.

‘É como cachorro que você me trata, é?!’ disse ele, partindo de frasco na mão para cima de quem o havia achincalhado.

O rapaz carrancudo se furtou, porém, à investida canina e, com uma agilidade imprevisível, contra-atacou o agressor. Uma botina ferrada de grossos pregos ergueu-se e ele sentiu a dor escorrer como sangue pelo próprio pescoço abaixo. A surpresa, a princípio, foi muito pior do que a dor (uma picada de urtiga doía tanto quanto aquilo).

A pouca distância de onde o corpo do Garoto caiu ferido, o vitríolo derramado foi corroer, num chiado que lembrava uma mijada borbulhante, a tampa de uma lata de lixo atirada pelo vento no beco do Harlem.

‘Essa botina ferrada não estava na descrição do rapaz de camisa axadrezada e de voz rouca,’ pensou o Garoto, estatelado no chão. ‘Como r foi se esquecer disso?’

Enquanto pensava, ainda aturdido pelo golpe que sofrera, um vago desejo de aniquilação cresceu dentro dele: a imensa superioridade do vazio. Mas mesmo ouvindo como um cochicho o sangue esvair-se em esguichos pela garganta perfurada, o Garoto conseguiu sacar a navalha do bolso largo do paletó folgado e desferir um golpe na perna do rapaz de camisa axadrezada que tinha se aproximado dele para uma esporada de misericórdia.

Apanhado de surpresa, o da camisa axadrezada soltou um grito rouco de dor e se curvou sobre a perna lancetada até o osso, na tentativa de conter o sangue que brotava a rodo. Foi quando o Garoto, num esforço inconcebível para quem adentrava o túnel da Morte, secionou à navalha a carótida do rapaz da calça cáqui que, a esta altura, já se tornara rubra de sangue.

Estrebucharam assim, lado a lado, no chão imundo do beco sórdido do Harlem, os dois candidatos a chefe do bando de delinqüentes juvenis da maravilhosa cidade de New York. [Pedro respirou fundo e imaginou que, neste trecho de ensopada moralidade, o conto devia explodir numa trilha sonora dramática que ele mesmo iria compor no cavaquinho.]

‘Você fica ou vem conosco?’ perguntou um dos delinqüentes juvenis ao candidato que havia sido indicado para chefe mas que rejeitara a indicação.

‘Vou, mas não para ser chefe,’ disse, precavidamente, o convidado.

‘Você tem razão; viu no que deu querer ser chefe?’ concordou o autor do convite, apontando com desdém os dois corpos que estertoravam num lago de sangue.

‘Seremos um bando sem chefe e esta vai ser a nossa diferença em relação aos outros delinqüentes juvenis que amedrontam a maravilhosa cidade de New York,’ enfatizou o convidado, integrando-se aos novos companheiros.

E só não mergulharam de mãos dadas, na noite imensa da imensa N. Y., porque seria um gesto por demais piegas, mesmo em se tratando de delinqüentes juvenis no ano novaiorquino de nineteen forty nine.”

Pedro terminou o conto e tomou o último gole, já frio e grosso, da sua inspiradora xícara de chocolate (o conto tinha sido manuscrito no inverno). Fora um trabalho duro e cansativo, realizado, porém, com um certo prazer risonho e com uma certa dose de humor negro, como lhe era peculiar. Podia queimar agora o último cigarro (o sexagésimo sexto desde que iniciara o texto), em homenagem ao crocodilo que jazia morto diante dos seus olhos.

Satisfeito, acendeu o sexagésimo sexto, ligou o CD e pôs Sinatra para cantar “New York, New York”, ouvindo-o com um certo prazer risonho e com uma … (completem por favor a frase, leitores co-autores!).

[Este texto integra a série intitulada CHAPOT PRESVOT 272, de Luiz Guilherme Santos Neves]

Luiz Guilherme Santos Neves (autor) nasceu em Vitória, ES, em 24 de setembro de 1933, é filho de Guilherme Santos Neves e Marília de Almeida Neves. Professor, historiador, escritor, folclorista, membro do Instituto Histórico e da Cultural Espírito Santo, é também autor de várias obras de ficção, além de obras didáticas e paradidáticas sobre a História do Espírito Santo. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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