PREFÁCIO
Terra de poucos habitantes, a maioria iletrada, foi graça de Deus que muitos prelados, em suas visitas pastorais, dessem em seus diários e apontamentos testemunho de andanças pela então Capitania do Espírito Santo.
Assim foi com nosso primeiro Bispo, D. João Baptista Nery, em cujos Diários, Mestre Guilherme Santos Neves encontrou a solução para o problema suscitado no século XIX por Nina Rodrigues, sobre onde se cultuava a Cabula.
Isto também ocorreu com os preciosos Diários de D. Pedro Maria de Lacerda, que nos visitou em 1880 e 1886, sobre os quais dei breve notícia na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, ano de 1995, n. 45, p.93 a 98.
O mesmo posso dizer, agora, aos ler estes Apontamentos secretos que são publicados graças ao apoio da Lei Rubem Braga da Prefeitura Municipal de Vitória.
São eles firmados por D. José Caetano da Silva Coutinho, visitante ilustre ao final do Brasil Colônia e início do Reino Unido, superiormente analisados, no Estudo, por Luiz Guilherme Santos Neves, amigo de mais de meio século, e com o qual tive o prazer de editar tantas obras sobre nossa terra que quando me perguntam quantas digo sempre perdi a conta, mas são mais de quinze livros.
A mim, o que mais chama a atenção nos Apontamentos é que quando o diligente antístite por aqui andou éramos uma nesga de terra litorânea, quase apenas uma passagem do Rio de Janeiro para a Bahia. Impedido de fazer entradas para as minas gerais (“Onde há muito caminho, há muito descaminho” dizia sisudo Desembargador lisboeta, isto é se estradas fossem abertas seria fácil o contrabando do ouro, diamantes e pedras preciosas pelas praias do Espírito Santo) o desbravador dos sertões do século XVII, que saía de Porto Seguro ou Vitória, se tomou bandeirante, demandando o interior através do planalto de Piratininga.
Por isto o Senhor Bispo andou por ínvios caminhos, encontrou pouca gente e mínimos sinais de civilização. Por isto ele, aqui e ali, registra a presença de tantos padres velhos, rancorosos, amancebados há décadas, com filhos adolescentes, ignorantes, celebrando missas “frias e acanhadas…”
Como observador participante, antropólogo sem ser, antes que a ciência do homem fosse sistematizada, produziu documento para uso próprio, cuja divulgação permite-nos maior compreensão da ocupação do solo espírito-santense ao longo do século. Por exemplo, quando D. Pedro aqui esteve, concertou com seu colega Arcebispo de Mariana, Minas Gerais, a fixação dos limites no sudoeste da já então Província, sob o império do rei Café que dominava desde o primeiro cachoeira do rio Itapemirim até as grimpas de São Miguel do Veado, em prósperas fazendas. Ao tempo de D. José Caetano da Silva Coutinho era mata atlântica contínua, com uma pouca de índios puris atacando, de quando em quando, os luso-brasileiros confinados na beira do mar.
Estamos na presença de fonte primária da mais alta valia para o entendimento da formação histórica de nossa terra, e temos de entoar loas a Reinaldo Santos Neves pela redescoberta do texto e o trabalho beneditino de sua restauração e publicação com 272 notas realmente esclarecedoras
INTRODUÇÃO
FICHA TÉCNICA
Transcrição a partir do original manuscrito,
produção de mapas e coordenação editorial:
Maria Clara Medeiros Santos Neves
Estudo introdutório:
Luiz Guilherme Santos Neves
Revisão:
Reinaldo Santos Neves
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D. José Caetano da Silva Coutinho, 8º bispo do Rio de Janeiro — Filho de Caetano José Coutinho e natural de Portugal, mas brasileiro por ter aderido à constituição do império, nasceu na vila de Caldas da Rainha a 13 de fevereiro de 1768 e faleceu no Rio de Janeiro a 27 de janeiro de 1833. (Para obter mais informações sobre o autor clique aqui)