Voltar às postagens

O.C.S., comerciante e contador

Bairro onde mora: Jardim da Penha
Bairro onde trabalha: Praia do Canto
Profissão: comerciante e contador
Naturalidade: Alegre – ES
Idade: 48 anos
Tempo de residência em Vitória: desde 1978
Tempo que trabalha em Vitória: desde 1978
Estado civil: casado
Filhos: 2

O que você acha da cidade de Vitória como ambiente para se viver?

– Eu adoro Vitória. Eu gosto mais de Vitória do que da minha terra. Vim de lá pra cá com 18 anos mais ou menos. Pra mim é o melhor lugar que tem. Tem tudo, você tá perto da praia, você tá perto da montanha, que é a Serra. O capixaba, os capixabas, porque tem dois, o capixaba e o espírito-santense, o capixaba é bem receptivo. E eu já formei um vínculo de amizade aqui.

Aspecto físico

– Tem muita coisa pra melhorar, no meu ponto de vista. Primeiro, a parte de escoamento de água, galerias, não existe. Sempre defendi na Praia do Canto o seguinte, que as ruas não poderiam ser todas asfaltadas, pra serem todas asfaltadas as saídas de esgoto teriam que ser bem tratadas, os bueiros. Eu brigo aqui por causa disso. Há alguns anos atrás quando eu fui contra asfaltar a Chapot Prevost, a Joaquim Lírio, porque toda a água de chuva hoje quem escoa é a Constante Sodré, a Constante Sodré nunca alagou, hoje ela alaga. Quando vem chuva pesada, você não consegue transitar nela. E antes tinha mais quintal, hoje já não tem mais, começou prédio, acabou quintal. É tudo pavimentado. Então por algum lugar a chuva tem que passar, pra água ir pra terra. Tem no Barro Vermelho, que é o único lugar que puxa a água pra dar vazão.



Você conhece a cidade como um todo? Qual parte da cidade você mais gosta?

– Eu conheço 99%. Agora Vitória cresceu muito, eu conhecia, há um tempo atrás, 99% de Vitória; hoje, talvez, numa proporção bem menor, porque cresceu muito.

Qual é o melhor bairro, em sua opinião?

– Eu gosto de Bento Ferreira até Jardim Camburi. Essa parte norte da cidade, nossa parte. Eu fui criado praticamente aqui.

Como você se relaciona em Vitória? É fácil fazer amigos, namorar…? Qual é o perfil do capixaba?

– Pra mim é muito fácil fazer amigos aqui. Tenho capacidade muito grande de fazer amizade. Sou muito sem-vergonha. Então eu conheço Deus e todo mundo aqui, principalmente na Praia do Canto. Sou mais conhecido aqui do que prata de dez centavos. Acho que o capixaba é bem receptivo. E acho que o capixaba tá começando a se preparar pro turismo, ele ainda não sabe receber turista, mas está começando a se preparar. Vitória é um lugar bonito. Chegando ali da Terceira Ponte, é uma coisa linda chegar em Vitória. Você tem uma vista maravilhosa, você tem a praia e a montanha perto, então você tem muita facilidade, é um lugar propício ao turismo. E não tem. Existe uma falha muito grande em Vitória, mas muito grande mesmo. Primeiro, o turista chega aqui em Vitória, aonde ele encontra informação? Se eu ficar ali fora em pé, uns dez minutos, pelo menos umas duas pessoas param e perguntam, onde é que é isso. E não é o turista, é o pessoal daqui que tem dificuldade, porque Vitória é muito complexa, principalmente a parte norte, é muito complexa pra você andar. Tenta andar em Jardim da Penha pra você ver. Solta uma pessoa lá, se perde, quem mora lá se perde. Então eu pensei numa proposta, até comecei a falar com um vereador. Se fizesse postos de turista, de informação ao turista. Montei um projetinho fiquei de sentar com o prefeito pra falar sobre isso, a recepção ao turista. A falha capixaba é recepção ao turista. Outra, a segurança em Vitória tá uma merda, mas não é só em Vitória, você vai no interior, em Santa Cruz, a segurança é…, é muito difícil você encontrar segurança. Mas apesar do problema da segurança, eu acho o capixaba receptivo, acho ele bem receptivo.



O que você acha do custo de vida?

– Difícil falar. Custo de vida é igual em qualquer lugar. Todo lugar depende do padrão, o que você consome, o que você não consome. Se você consome o básico, o custo de vida não é alto, agora se você quiser um pouco mais de conforto, o custo é alto. A gasolina aqui é um preço, e o Brasil vende gasolina pra fora mais barato. Vitória tem um consumo grande, então onde tem o consumo a tendência é subir o preço. Não é porque aumentou o consumo caiu o preço, tem certas coisas que não. A gasolina, por exemplo, eu acho que não, quanto mais tem consumo, mais o cara quer vender, mais o cara quer ganhar.



Tem algo a dizer sobre o trânsito? Como você se locomove?

– Uma merda. Tá horrível. Vitória não tem estrutura pra suportar a quantidade de carro que tem agora, não tem mesmo. E outra, nós moramos nessa região nossa aqui, que é um local mais nobre, então, o pai tem carro, a mãe tem carro, o filho tem carro, só falta o cachorro ter carrinho também. Isso aí congestiona muito. Nessa Ponte Ayrton Senna, de manhã, você não consegue descer, de tarde você não consegue subir, você não consegue ir a Jardim da Penha. Quando fizeram essa ponte, nós brigamos contra essa ponte ser aqui. Ah, não, essa ponte só vai servir Jardim da Penha, vai desafogar o trânsito da Ponte de Camburi, não vai ter ônibus circulando. Então essa ponte não solucionou o problema porque tem ônibus, não desafogou Camburi, ela causou mais problema. E eu vou falar pra você que daqui a pouco tempo a Aleixo Neto tem uma ponte, Joaquim Lírio tem uma ponte. No mínimo tem mais umas duas, três pontes aqui, dentro de pouco tempo. E Vitória, no meu ponto de vista com relação a trânsito, tinha que fazer viadutos e túneis cortando os morros, se você cortar a Gurigica você vai sair lá em Santo Antônio. Agora, pra mim não tem problema, eu moro em Jardim da Penha, tenho só que atravessar a ponte, voltar a ponte, atravessar a ponte, voltar a ponte. Dá um quilômetro e meio, vou andando. De carro, de jeito nenhum.



Você assiste ou participa das tradições que ainda restam? (procissão dos navegantes, dos homens na festa da Penha, festa de S. Benedito…)

– Não vou a nada, nada. Fui uma vez só na procissão marítima, mas não gostei de nada.



E as tradições mais recentes, como o Vital, o carnaval do Centro…?

– Nada disso, nada disso. Nessa época eu recuo. Ou você participa ou sai, vai pro sítio. Passagem de ano, por exemplo, eu vou pra um lugar mais tranquilo, por causa de segurança, principalmente, por causa de segurança. Já passei algumas na praia de Camburi, quando meus filhos eram pequenos. E foi excelente. Hoje não, você chama os filhos pra ir eles não querem. Você “tá pagando mico”. Sair com filho é pagar mico.

Como você se diverte? Quais lugares que frequenta?

– Boteco. Outra coisa que eu gosto muito é ir pra roça, lá pro sítio. E muitas vezes, vir pra cá trabalhar. E sentar num boteco; Jardim da Penha é ideal pra isso, na Praia do Canto não tem, não existe. Mas em Jardim da Penha tem o Bar do João, o Pezão, eu vou muito no trailer do Kapo’s do Paulinho, não pra beber nem pra comer, mas pra bater papo com o Paulinho, pessoa formidável. Eu não estou fazendo propaganda dele não, pelo amor de Deus. Ele nem precisa de propaganda.



O que acha do movimento cultural de Vitória?

– Cultura é muito pobre. Pra jovem até que tem muita opção, mas pra pessoa mais de idade, você não acha muita opção não. Um baile, uma seresta, não tem. A não ser que você vá num forró lá nos quintos dos infernos. Mas aqui na nossa região não existe. Ou é restaurante ou boteco.

E a vida noturna? O que se vê na noite de Vitória?

– Não saio de noite não.

Tem algo a dizer sobre a educação?

– Eu acho que a educação municipal nossa é melhor que a estadual de longe. Tem uma escola municipal ali em Itararé, tem tudo, tem informática, bons professores, estrutura boa. Tem opção de esporte depois da aula. Eu estudei a vida inteira em colégio público. Nunca estudei em colégio particular. Estudei no interior em Alegre, no colégio estadual de Alegre. Mas hoje em Vitória eu acho a educação municipal, pelo que eu convivo aqui, o pessoal da área municipal fala que está melhor que a estadual, bem melhor. Creche da Prefeitura, aqui do lado do Carrefour, excelente. Tem gente aqui da Praia do Canto que tem condição e põe o filho lá. O posto de saúde da Praia do Canto, formidável.  Abriu agora. E nós temos um líder comunitário formidável, ele é excepcional, ele com o apoio do irmão dele, sozinho acho que ele não faria; o irmão dele é que ajuda muito.

O governo?

– O estadual, eu acho que a gente está muito bem servido com Paulo Hartung. É um cara sério, tem uma equipe boa. Agora tem as vantagens e as desvantagens. Ele tem as falhas dele e os valores. Mas eu acho que Paulo Hartung tem mais valor do que desvalor. É o meu ponto de vista, não sou político, mas pelo que você vê, ele é um cara bom. No governo estadual ele fez um bom serviço a primeira vez, tanto que foi reeleito por unanimidade. A maior do Brasil. Votei em Paulo Hartung, mas se eu tivesse uma opção boa votaria na opção boa, talvez, mas ele pra mim foi a melhor opção. Agora o governo municipal, o Coser, PT, é uma boa porcaria. O que é que ele fez até agora, você já descobriu? Como prefeito, não fez nada, cansou muito a garganta e deixou o Vital acontecer ali na Enseada do Suá. Vitória é o município do estado que mais dinheiro tem, é o município mais rico do estado, ele não fez nada. É por isso que eu não gosto de PT. Não votei nele, não votei no Lula, votei no Alckmin, por falta de opção, a única opção que tinha era ele, então votei nele.



Segurança.

– Bandido não tem nenhum medo, não tem mais respeito pela polícia. Então eu tenho saudade da ditadura, muita saudade da ditadura. Porque na época do militarismo, tinha muito menos bandido. Essa coisa que bandido vai se recuperar, vai nada, pra mim bandido já está na veia, aquilo é vagabundo e não tem jeito. Esse negócio de crime hediondo, pega esse cara de crime hediondo e mata o cara. O cara que pega, igual aconteceu aqui no norte do estado, em Nova Venécia, um cara desses tem recuperação? Ele e a mulher? Nunca mais na vida deles.  Matar um menino de nove anos? Essas pessoas não têm recuperação. Meter uma bala nele. Botar na câmara de gás portuguesa. Sabe como é? Tem uma sala, e um alçapão, e um bujão de gás, você abre o alçapão e o bujão de gás cai na cabeça do cara. Câmara de gás. Tem o caso do cara que está passando necessidade, o filho está passando fome, ele não consegue emprego, esse cara devia ser preso, mas uma prisão diferente, prestar serviço à comunidade ganhando alguma coisa. Pra poder ajudar a família, senão não tem jeito. Outro; esses crimes do colarinho branco. Esses advogados vendendo alvará de soltura. O cara que tem um nível cultural, tem um nível de educação alto, esse cara tinha que ter a pena dobrada, porque ele sabe o que está fazendo. Um cara que trabalha com a lei, ele sabe o que é a lei. Esse cara deveria ter uma pena muito maior, e não ter a Ordem dos Advogados julgando ele. O cara cometeu um erro, ele tem que sofrer as consequências do erro dele. Igual o cara que estaciona o carro em cima da calçada, eu não sabia que era proibido estacionar na calçada. Não tem desculpa. Então o cara que tem terceiro grau, bacharel em alguma coisa, e comete um crime, ele tinha que ser punido muito mais.  E não: pegaram o cara roubando, sabem que roubou, e o cara prova que ele não roubou. E o que a gente tem aí é um monte de político semi-analfabeto fazendo as nossas leis. Aumentando o salário mínimo em oito reais, e o próprio salário em noventa por cento. Eles dizem que não tem inflação, só pro salário deles, pro salário mínimo não tem inflação. Fora verba disso, verba daquilo. Eles não pagam nada. O salário livre deles teve aumento; agora, eles têm os salários indiretos, que é também muito superior ao salário mínimo.

Quais são os grandes problemas de Vitória?

– A segurança e o trânsito. O capixaba é mau motorista. Ele não tem base. Eu acho que nos colégios ele deveria ter uma base pra educação no trânsito. E não esperar que isso vá ser melhorado em um ano, dois anos, não. Isso vai ser melhorado na geração que começar a ter educação no trânsito. Quando eu estudei, a gente tinha [uma matéria] OSPB [Organização Social e Política do Brasil], isso aí naquela época que eu estudava ensinava muita coisa, hoje você não tem mais isso. Hoje se você chamar dez pessoas pra cantar o hino nacional, ninguém sabe. Quando eu era pequeno, no colégio, a gente cantava o Hino Nacional, o Hino do Estado, o Hino da Bandeira. E o nosso hino é um dos mais bonitos do mundo, a letra também.

E as grandes vantagens de morar aqui?

– Eu acho que é você ter praia perto, sol quase que o ano inteiro, tudo aqui em Vitória é perto, os bairros quando surgem passam a ter vida própria, você não fica escravo de outro bairro, escravo da cidade. Todo bairro, quando já monta, já começa o bairro, já tem determinadas coisas. A não ser periferia, aquele bairro de invasão, aí não tem como. Mas os bairros já têm normalmente uma estrutura.



Como você definiria a sua vida em Vitória?

– Eu nasci pelado e chorando, vim pra Vitória na mesma condição. Hoje eu tenho mulher, tenho condição de morar, tenho condição de trabalhar, em Vitória. Experiência de vida consegui em Vitória. Então, eu acho Vitória excepcional, formidável. Aqui você consegue manter amizades. Uma pessoa tem oportunidades aqui se correr atrás delas, tem condição de ter alguma coisa. Agora, Vitória não tem como crescer na horizontal, a única maneira de crescer é pra cima. Se for crescer na horizontal vai ter que sair pro mar ou pro mangue. Mas vai chegar uma hora que vai estagnar, e eu sei que Vitória vai estagnar.



Você acha que Vitória deveria ser a capital do estado?

– Eu não acho. Eu acho que a capital do estado deveria ser Vila Velha. Primeiro, é um local mais parecido com cidade grande. Vitória tem um padrão mais de interior. Vila Velha: você chega na Praia da Costa parece que você está em outra cidade. E a capital do estado deveria ser um lugar que conseguisse crescer. Então, a gente não tem mais pra onde crescer. Fazer loteamento aonde agora aqui em Vitória? As pessoas trabalham em Vitória e moram em Laranjeiras, na Serra, moram em Cariacica, em Vila Velha, em Viana, porque Vitória não tem mais como suportar. Então o camarada tem que fazer uma viagem pra chegar pra trabalhar. Outra coisa excelente: o Transcol, grande coisa que o estado fez. O camarada sai lá de Santa Cruz, município de Aracruz, ele atravessa Aracruz, Fundão, atravessa Serra, Vitória, pra chegar em Vila Velha e pagando um preço só. Isso foi uma grande invenção que fizeram pro trabalhador. Você pega um ônibus e roda a Grande Vitória toda por um preço só. Ah, mas é muito cheio. Mas dá condição. Porque quando eu cheguei em Vitória pra você ir pra Vila Velha era uma briga. Você pegava um ônibus aqui, saltava em São Torquato, e lá pegava outro pra Vila Velha. Pra ir pra Cariacica era um sacrilégio. Outra coisa que eu acho que Vitória teve foi o transporte aquaviário. Você saía daqui, era um passeio lindo você sair daqui da cidade pra ir a Paul ou Praia da Costa, era lindo, mas lindo mesmo. Era um passeio bonito. Tinha o segmento aquaviário, que o governo, o Zé Inácio, falou que ia reavivar aquilo. Nada. Você atravessava daqui pra lá. Outra coisa que Vitória tinha que me dá um certo saudosismo é que você ia a Paul tinha os barqueiros [catraieiros]. O governo, para o turismo, poderia fazer isso e dar uma estrutura, um padrão de barco, para atravessar de Capuaba, naquela região de Capuaba, pra Vitória, do Centro de Vitória pra Paul. Uma coisa bem feitinha, bem estruturada. Isso aí dá saudade, é uma coisa bonita, um cartão postal pra Vitória.



E o que você acha da Chácara Von Schilgen?

– Um absurdo. Aquilo ali é um patrimônio, que o estado poderia comprar, como essa área aqui atrás, o estado poderia comprar isso aqui, mas a Petrobrás comprou antes. O estado tem condição pra isso. A Petrobrás vai fazer um parque, mas será que todo mundo vai ter acesso, o pessoal lá de São Pedro vai ter acesso? Existe essa desigualdade com relação a essas coisas aí. Mas que era uma coisa que o estado poderia ter comprado, a Chácara Von Schilgen, poderia ter comprado, ter feito ali um mirante, pra você ver a praia. E aquilo ali não ia acabar nunca. Agora vão levantar prédio só classe A. Aí o que acontece, quantos carros a mais vão entrar aqui na Praia do Canto? Tem gente falando que não está vendendo porque o condomínio é heterogêneo, porque tem apartamentos luxuosos junto com outros menores. Só que quando começa um bairro de invasão, por exemplo, Feu Rosa, era um bairro barra pesada, aí foi mudando, melhorando; hoje Feu Rosa é um bairro muito bom, a classe pobre mesmo, o mavé-dici está sendo empurrado pra Vila Nova de Colares, pra outro lugar. Progresso é isso, quem tem dinheiro vai empurrando quem não tem. Um local nobre no centro da Praia, você acha que vai morar gente de classe baixa? Nunca. Vai ser só classe A, e aquilo vai valorizando, como qualquer terreno hoje, e não só aqui, mas também em Jardim Camburi, Jardim da Penha, Laranjeiras. E isso vai empurrando quem não tem poder.

———
© 2014 Texto com direitos autorais em vigor. A utilização / divulgação sem prévia autorização dos detentores configura violação à lei de direitos autorais e desrespeito aos serviços de preparação para publicação.
———

Deixe um Comentário