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Entrevistado: Darcília Moysés

Entrevistado: Darcília Moysés
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
Vitória, 07/03/2012

Data e local de nascimento: Cachoeiro de Itapemirim, 24 de outubro de 1948.
Profissão: Professora, atualmente na direção da Aliança Francesa.

VB: Como você conheceu Olympio Brasiliense?

DM: Antes de conhecer o profissional Olympio Brasiliense, o grande responsável por uma série de obras em Vitória, eu conheci o marido de uma amiga de minha mãe.

Verdade é que Rosalina, na época, era amiga de minha mãe. Ela era filha dos donos da casa que minha mãe ficava hospedada quando ia ao Rio. E, assim, quando fui apresentada a Olympio, aqui em Vitória, eu já tinha conhecimento de sua esposa. Tinha eu nesse tempo uns 13 anos e talvez, por ser ainda bem jovem, não reparasse em determinadas coisas que a gente só começa a perceber mais tarde.

VB: E mais tarde, qual foi a impressão que você teve de Olympio?

DM: Mais tarde, como eu já freqüentava a casa de Olympio, eu o via sempre ouvindo música. Aliás, ele trabalhava ouvindo música. Havia em sua casa uma vitrola, ou seja, uma eletrola e era nela que seu pai gostava de ouvir ópera.

Para entrar na casa de Olympio, passava-se antes pela sala de trabalho, havia ali uma imensa mesa de madeira de engenharia. Ali, ele ficava às voltas com suas plantas e projetos. E, dentro desse metiê, havia música.

Nessa convivência, fui percebendo quão importante era esse homem, tanto para Vitória como para a Prefeitura. E não era apenas eu que reconhecia isso. Também seus amigos, pessoas que tinham um nível cultural alto, aliás, havia um jornalista, entre outros que freqüentavam a casa de Olympio e depositavam nele muita importância. Desses amigos, lembro-me do Feitosa e de um outro chamado Bachour. Nessa época comecei a ouvir a respeito da ponte Florentino Avidos e Olympio Brasiliense foi um dos que trabalhou na organização para receber a ponte vinda da Alemanha. Era na década de 30, e Olympio esteve presente nesse projeto. Enfim, ficamos sabendo que Olympio era de uma família conceituada, tinha feito estudos em escolas tradicionais em Minas Gerais. Mas isso foi àquela coisa da voz do outro, que foi ressoando, e que foi incorporando as informações que eu tinha do Olympio. Lembro-me de Olympio, também como dançarino de tango, quando ele deu um “show”, exibindo-se muito bem, no casamento de minha irmã. Era, como de costume, casamento em casa, e Olympio aproveitou para mostrar que não só em projetos ele era bom como também em dança, ele dançava tango muito bem, diga-se de passagem.

Hoje, a visão, que eu tenho de Olympio é de um intelectual, que usava uma piteira e gostava de música, sem deixar de lado a sua engenharia. Essa Vitória, que hoje aí está, é a Vitória de depois de Olympio, cujo nome está ligado à transformação na década de 30, em que o dedo desse homem esteve em diversos pontos de construção. Tão importante foi a sua figura como agente na história de nossa cidade, que, hoje, encontra-se registrado na memória de seus conhecidos.

Olympio Brasiliense era um cara feliz. Tinha seu próprio universo e vivia dentro dele curtindo o que gostava; amigos, cerveja, piteira, música… Ele era um cara que tinha um refinamento, evidentemente de uma outra época, não era dos anos 60, mas ele trazia um refinamento que era um pouco mais antigo até, e exatamente por isso chamava a atenção.

Quando você nasceu, ele ficou muito feliz. Foi um dia de vitória. Foi muito engraçado porque ele bateu lá em casa para avisar a mamãe para a gente sair correndo, para ajudar a Rosa. E ele estava super feliz, porque ele era muito idoso e para ele era uma vitória, ver a continuidade dele. Eu tenho muitos flashes nesse sentido. Eu me lembro que no seu primeiro aniversário, eu gostava muito de fazer docinho, fazer bolo, essa coisa toda, e eu me lembro dele todo empolgado porque ele ia fazer o seu primeiro aniversário. Seu bolo foi um V, eu não sabia ainda confeitar tanto, mas enfim, colocamos umas flores e eu me lembro que, eu não sei como surgiu a conversa, eu virei pra ele e falei: – não é muito fácil fazer isso não! E ele virou pra mim e disse: – É se fosse um V gótico seria pior ainda. Você está feliz ainda porque é um V retinho. Eu me lembro como se fosse hoje. E aí os amigos dele vieram, o Alevino Basset que era amigo dele, o Feitosa era um cara muito culto, muito inteligente, jornalista, ele morava ali no Edifício Glória.

VB: Como era Olympio Brasiliense?

DM: Ele era uma pessoa divertida. Ele não era uma pessoa pra baixo, era uma pessoa empreendedora no sentido dentro daquilo que ele acreditava, ele fazia um universo dentro dele. Ele tinha um universo muito particular, e dentro deste universo ele era uma cara que era feliz, a gente pode dizer que ele viveu feliz dentro desse universo. Ele curtia as coisas dele, ele curtia os amigos, ele curtia a cerveja boa dele, ele curtia a piteira dele. Ele não fumava: puf! puf! Não. Ele levava tempo, você sentia pelo gesto dele fumando que havia ritual, havia prazer, existem gestos que traduzem um mundo interior, e nesse caso a gente percebia isso. Agora, era uma cara que tinha um universo muito especial, muito dele e da turma dele. As pessoas que ficavam à margem dele, não estou falando à margem no sentido pejorativo, mas à margem dentro de um comportamento que é muito peculiar, que é muito próprio, que está muito ligada a pessoa dentro de um certo nível de intelectualidade, geralmente elas ficam à margem. Eu me lembro que ele conversava muito com o meu padrasto. Eu mesma não cheguei a conversar tanto com ele porque, a última vez que eu vi Olympio, eu acho que eu tinha 20 anos, 22 anos no máximo. Havia uma diferença muito grande. Mas, eu me lembro dele conversando muito com meu padrasto que era um homem muito culto também, seu padrinho Elias Albuquerque de Carvalho, eles conversavam muito.

VB: Você acha que ele se destacava pela intelectualidade em função do trabalho?

DM: Era a sua intelectualidade oriunda do trabalho e da experiência de vida que ele tinha. Olympio Brasiliense era produto de uma pessoa desenvolvida com um elevado grau de criatividade. E não fora só os estudos que lhe deram isso, apesar de ter passado por determinadas escolas e desfrutado de excelentes conhecimentos.

VB: Como você definiria Olympio Brasiliense?

DM: Olympio era um mundo, o qual construiu com excentricidade e muita cultura. Ele era um cara inteligentíssimo, uma pessoa culta, uma pessoa meio excêntrica, exatamente por causa dessa particularidade de ter um mundo já construído.

VB: Tem alguma coisa que você gostaria de acrescentar?

DM: Ele construiu seu nome, deixando não uma; mas várias construções como contribuição para a cidade de Vitória, que hoje guarda na memória seu eterno caminhar pelas ruas desta cidade. Seus passos estão ali impregnados marcando uma época de vitórias. Nos caminhos por que ele trilhou, passam hoje vidas que anonimamente sequer sonham quão importantes foi a contribuição desse homem na construção de Vitória, que longe de ser uma cidade planejada, guarda nas entranhas a memória de Olympio Brasiliense.

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