Voltar às postagens

Entrevistado: Maria Zilma Rios

Entrevistado: Maria Zilma Rios (Bibliotecária)
Entrevistador: Vanessa Brasiliense
07 de março de 2012

Assunto: Olympio Brasiliense e o Sanatório Getúlio Vargas.

ZR: Meu nome é Maria Zilma Rios, e o meu primeiro contato com o nome Olympio Brasiliense foi quando iniciei a pesquisa sobre o Sanatório Getúlio Vargas, que consistiria na minha dissertação de mestrado. Por bem, nada mais categórico que começar com a história daquele que desenhara esse grandioso projeto arquitetônico – um dos mais lindos hospitais existente da década de 40. Assim, busquei conhecimentos desse projeto e verifiquei que ele teria sido elaborado por Olympio Brasiliense. Quis saber mais sobre esse arquiteto, no entanto as buscas foram em vão.

Mais tarde descobri através de levantamentos sobre o Dr. Jayme Santos Neves, é que eu fiquei sabendo pouquíssimas informações sobre o Olympio.

VB: Qual a relação do Dr. Jayme com Olympio Brasiliense?

ZR: A relação de Dr. Jayme com Olympio Brasiliense era de pura amizade. Eles eram tão amigos que o Dr. Jayme chegou a convencê-lo a desenhar o projeto arquitetônico de madrugada. Isso porque o Governador Punaro Bley exigira que o projeto ficasse pronto com uma certa urgência. Dr. Jayme, então, aceitando a proposta do governador, convencera Olympio a se adiantar com o projeto, que teria que se aprovado pelo Ministério da Saúde e Educação.

Na elaboração do projeto do Sanatório o Dr. Jayme e o Sr. Olympio eles eram amigos a ponto de Dr. Jayme convencê-lo a desenhar o projeto arquitetônico do Sanatório de madrugada. Quer dizer, eles passaram praticamente a noite inteira desenhando o projeto porque o Dr. Jayme recebeu a proposta do governador, o Punaro Bley, que ele tinha que apresentar um projeto, uma planta, um desenho do Sanatório para que pudesse ser aprovado pelo Ministério da Saúde e Educação, Educação e Saúde na época ainda estavam juntos. Então eles não tinham muito tempo. Eles foram onde hoje é o MAES.

Era o prédio da antiga Secretaria de Obras, hoje Museu de Arte do Espírito Santo.

Então, eu sei que foi lá que eles passaram a noite inteira desenhando o projeto arquitetônico do Sanatório e a planta, porque Dr. Jayme queria que tivesse a ala sul, que tivesse ala norte, que tinha que pegar o sol pela manhã, que tinha que terem todos aqueles detalhes, Dr. Jayme ia passando, porque Dr. Jayme já tinha idealizado como ele queria o Sanatório, aqueles solários, que eram aquelas varandas, que os pacientes poderiam tomar o sol pela manhã, que era o melhor sol. Então, eles passaram a noite e Dr. Jayme dizendo que teria que ter uma barbearia porque os pacientes não poderiam sair, teria que ir um barbeiro para lá, uma biblioteca.  o projeto original do Sanatório ele contava com dois pavimentos e em 1949 ele ganha um terceiro pavimento que já estava previsto quando eles fizeram este projeto porque a liberação recursos não era muita.

O Brasil estava em um processo de muitas construções de Sanatórios, nós tínhamos um contingente de 55 mil pacientes com tuberculose e só tínhamos 22 mil leitos. E em Vitória, no Espírito Santo nós tínhamos 8 mil tuberculosos para apenas 230 leitos do sanatório. Então eles passaram uma noite inteira desenhando, os dois, o Dr. Jayme dizendo como ele queria que fosse o sanatório e o Olympio, ele ia fazendo a planta e por final eles fizeram toda a fachada do Sanatório que é a que eu te passei que eu guardo que é muito linda, e que inclusive eu uso como marca d’água nos certificados de Departamento de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitário que você sabe que hoje o Sanatório é um Hospital Escola. Então eu preservo esta imagem do Sanatório com marca d’água nos certificados que nós emitimos para os cursos, para as capacitações, atualizações que nos damos lá no Hospital Universitário.

VB: Como a senhora conseguiu informações do Olympio Brasiliense e do Dr. Jayme nessa noite que eles passaram elaborando esse projeto?

ZR: As informações, que obtive sobre Dr. Olympio e Dr. Jayme, bem como o da elaboração do projeto feito em uma noite, foram-me passadas pela Srª Elídia Franzini que, aliás, por um certo tempo trabalhou no Sanatório, na biblioteca que lá havia. Mais tarde, Elídia Franzini atuou na Liga e lá começou a documentar fatos relacionados com Dr.Jayme.

VB: Na pesquisa que a senhora realizou sobre o Sanatório Getúlio Vargas o que encontrou foi o relativo a Olympio Brasiliense foi o projeto do Sanatório?

ZR: Na pesquisa que realizei sobre o Sanatório Getúlio Vargas percebi que o projeto foi elaborado com uma certa pressa. No dia seguinte à noite do desenho da obra, Dr. Jayme seguiu para o Rio levando a planta do Sanatório, a fim de que a verba para a construção, que começaria ainda em 38, pudesse ser liberada. E, nessa velocidade, o sanatório foi inaugurado em 42. E, em homenagem ao governo do Brasil na época, recebeu o nome de Getúlio Vargas

VB: A senhora tem conhecimento de outros projetos relacionados a Olympio Brasiliense a não ser o Sanatório?

ZR: A amizade entre Dr. Jayme e Olympio fez com que eles fossem parceiros e trabalhassem na mesma sintonia. E, nessa sintonia, o Dr. Jayme idealiza e Olympio Brasiliense com seu pincel mágico ia colocando no papel e traduzindo para a realidade todas aquelas ideias. Acredito que muitas obras do final da década de 30 e começo da década e 40 foram desenhadas por Olympio, que certamente faz-se presente nos projetos arquitetônicos da saúde no período em que o Dr. Jayme dos Santos Neves fora secretário Estadual da Saúde.

VB: A senhora relatou a dificuldade de encontrar material que teve para dar subsídio à pesquisa, entre eles o projeto em si, o projeto não foi encontrado, pelo menos por enquanto. A senhora poderia relatar como foi essa busca pelo projeto do hospital?

ZR: A busca pelo projeto do hospital fora angustiante, devido a minha paixão pelo prédio do Hospital, onde hoje funciona o Hospital Universitário.

E assim, apaixonada pela obra feita para durar, quis enriquecer a minha pesquisa com dados do nome Olympio Brasiliense, uma peça muito importante dentro da minha dissertação. Afinal, fora ele que havia desenhado e dado forma àquela estrutura, que hoje guarda a engenhosa arte deste arquiteto – Olympio Brasiliense. E, saber sobre a vida desse homem passou a ser vital para o meu trabalho.

Como eu sou apaixonada pelo projeto arquitetônico do Sanatório, eu queria saber como era essa planta, como tinha sido feita, desenhada, o que era o que, eu queria identificar dentro do hospital onde tinha sido a barbearia, onde foi a sala do dentista, que também tínhamos isso, onde funcionava o centro cirúrgico, tinha um elevador que saía da copa, que ia para os andares, que o pessoal da copa suja não ficava com os da copa limpa, o pessoal da copa suja é que servia os andares. Eu queria saber como era essa coisa toda engenhosa desse elevador interno, ainda na década de 30. Mas eu não consegui. Eu fui à Prefeitura, procurei na parte de projetos antigos. Fui ao Arquivo. Inclusive eu tinha fotos do Sanatório que o Arquivo não tinha. Então, foi muito angustiante. Eu cheguei a ligar para o Rio, Belo Horizonte, para o CREA de lá para saber se eles tinham o nome do Olympio Brasiliense porque até então aquele nome surgiu, e era uma peça muito importante dentro da minha dissertação, porque foi ele que desenhou, foi ele que deu forma aquele sonho de construir o sanatório e eu precisava saber quem era o que fazia, onde morava, que outras coisas ele tinha feito para eu poder chegar até o projeto. Mas infelizmente foi uma das coisas que eu não pude trabalhar um pouco mais dentro da minha dissertação foi um pouquinho da história do Olympio porque inclusive eu não conhecia ainda a Vanessa. Eu fiquei sabendo depois que ele tinha uma filha, mas aí, como a gente sabe dissertações têm prazo. Então nem me passou pela cabeça, eu ainda procurei Brasiliense. Será que tem alguma coisa? Mas ficou uma coisa muito vaga, e eu não tinha. Ai, bem depois que eu tinha defendido a minha dissertação eu descubro que ele tinha uma filha…

Mas o trabalho científico não tem fim.

Como uma pesquisa científica é infindável, fico feliz em saber que alguém se importa em falar do papel relevante de Olympio Brasiliense para a sociedade capixaba.

Vanessa, sua única filha, se interessa por isso e faz jus ao talento e à originalidade desse arquiteto. Numa época pioneira, alguém com tanta genialidade desenhou e projetou edifícios e casas modernas para a época. A arquitetura e o urbanismo de Vitória, Centro e Praia do Canto e até de Cariacica conserva marcas de Olympio Brasiliense, projetando seu brilhante trabalho.

Desenhar um Sanatório para suavizar a vida de tantos que por ali passaram até 15 anos de suas vidas, num tratamento de isolamento, foi uma engenhosa tarefa e um legado deixado por Olympio Brasiliense. O Sanatório Getúlio Vargas, na década de 30, em 38 quando foi que ele começou, ele foi considerado um projeto futurista, moderno. Foi um dos Sanatórios mais modernos a ser construído. Então ele tinha aquela visão lá na frente, ele vivia acho que um passo a frente do tempo que ele vivia.

VB: Tem algo que a senhora gostaria de acrescentar?

ZR: Eu espero que você possa realmente fazer esse trabalho brilhante, e que todos nós possamos conhecer um pouco do talento do Olympio Brasiliense e do legado que ele nos deixou durante todas essas décadas de produtividade, e a gente poder partilhar um pouco desse homem, como foi o dia a dia desse homem genial, e que cercado de amigos também maravilhosos, e ele muito prestativo, ele com certeza deu essa contribuição e espero que você como filha dele possa dividir com a gente um pouquinho desse pai genial que você teve.

Com certeza, antes de mim ele é muito mais da sociedade em termos de construções de obras que ele fez, eu sou um pouco suspeita em falar porque eu sou apaixonadíssima por ele e pelo trabalho dele, mas com certeza ele teve uma contribuição muito especial para Vitória.

Deixe um Comentário