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Onde está a Margarida?

— Onde está a Margarida?
Olê, olê, olá!
Onde está a Margarida?
Olê, seus cavalheiros!

— Ela está em seu castelo,
Olê, olê, olá!
Ela está em seu castelo,
Olê, seus cavalheiros!

— Mas eu queria vê-la,
Olê, olê, olá!
Mas eu queria vê-la,
Olê, seus cavalheiros!

— Mas o muito é muito alto,
Olê, olê, olá!
Mas o muro é muito alto,
Olê, seus cavalheiros!

— Vou tirando uma pedra,
Olê, olê, olá!
Vou tirando uma pedra,
Olê, seus cavalheiros!

— Uma pedra não faz falta,
Olê, olê, olá!
Uma pedra não faz falta,
Olê, seus cavalheiros!

— Vou tirando duas pedras,
Olê, olê, olá!
Vou tirando duas pedras,
Olê, seus cavalheiros!

— Duas pedras não faz falta,
Olê, olê, olá!
Duas pedras não faz falta,
Olê, seus cavalheiros!

— Vou tirando três pedras…

É roda relativamente moderna entre nós. Toda ela é dialogada entre o “cavalheiro” e os elementos da roda eu ocultam a “Margarida”.

Acerca desta cantiga há referências no livro de José A. Teixeira, Folclore goiano (p. 149). Termina assim a versão da “Margarida” de Goiás:

Tirando uma pedra,
Olê, seus cavalheiros,
Está descoberta a Margarida,
Olê, olê, olá!
Está descoberta a Margarida,
Olê, seus cavalheiros!

Não se registra aí a melodia, nem se diz qual o desenvolvimento do brinquedo.

Também nos Estudos de folclore, de Fausto Teixeira (p. 149), há um “Cadê a Margarida”, variante mineira, sem registro da melodia. A maneira de brincar (que — parece — está truncada), difere em muitos pontos da nossa.

João Gomes Júnior e João Batista Julião citam, igualmente, a cantiga no seu livrinho Ciranda, cirandinha… (p. 33, n. 41). A letra aí referida assemelha-se à da cantiga capixaba, com pequenas divergências, v.g., o estribilho “O que, o que, o que / o que se vai fazer?” em lugar do nosso “Olê, olê, olá! / Olê, seus cavalheiros!”

Antes de nos referirmos à melodia registrada em Ciranda, cirandinha… torna-se necessário fazer aqui um parêntese. Já afirmamos que nossa preocupação principal na organização desta série de cadernos é seguir o critério da mais rigorosa fidelidade, porque entendemos que só assim poderão ter algum valor os trabalhos dessa natureza. Ora, não podemos duvidar de que tenha sido igualmente fiel o registro feito por João Gomes Júnior e João Batista Julião, no trabalho citado. Nesse pressuposto, a melodia por eles transcrita para esta cantiga revela mais um caso de interpretação de letras e motivos musicais, nas canções de roda que se ouvem pelo interior do país. A letra por eles recolhida assemelha-se, como dissemos, à versão capixaba de “Onde está a Margarida?”. A música, porém, é inteiramente diversa. E nem podia deixar de o ser, pois ali vemos, com ligeiras alterações a melodia com que se canta “O pobre peregrino”, não somente no Espírito Santo como no Rio de Janeiro (Vamos brincar de roda, p. 100), e certamente em muitos outros lugares.

O fato é deveras curioso e muito nos admira que os autores de Ciranda, cirandinha… não o tenham mencionado, porque é difícil que o ignorassem.

Modo de brincar: Forma-se a roda, bem unida e fechada e, no meio dela, escondida pelas saias das outras crianças, fica a “Margarida”, agachada no chão. Do lado de fora o “seu cavalheiro”, ou “cavalheiro”, circula em torno da roda, a passo.

Começa, então, o diálogo entre o “cavalheiro” e a roda, e, à medida que ele canta “vou tirando uma pedra”, puxa uma das crianças e a leva consigo, dando-lhe a mão. Continua a voltear, no mesmo sentido, tirando sempre mais uma “pedra” por estrofe cantada, até que terminem todas as “pedras”. Desfeito, assim, o “muro”, aparece a “Margarida”, que logo se põe de pé e corre atrás das outras crianças, a fim de pegar uma delas. A que for presa irá ser a “Margarida”, recomeçando-se a roda na mesma forma descrita.

Em variante de Vitória, logo que o “cavalheiro” tira a última “pedra” e aparece a “Margarida, forma-se, em torno desta, uma roda bem larga, e a “Margarida” vai pulando, cócoras, à frente de cada uma das meninas da roda, até dar uma volta inteira. Enquanto isso, o coro entoa o seguinte versos final:

Apareceu a Margarida,
Olê, olê, olá!
Apareceu a Margarida,
Olê, seus cavalheiros!

[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]

Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.

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