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Os olhos de Marianita

Os olhos de Marianita
São pretos que nem carvão.
Atchim! Marianita, sim,
Atchim! Marianita, não.
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Quem fuma cachimbo, baba,
Quem toma tabaco, espirra.
Atchim! Que diabo é isso?
Na panela tem feitiço!
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Embora se restrinja a duas quadrinhas apenas, é esta uma das mais queridas cantigas de roda em nossa terra. As crianças gostam dela e cantam-na freqüentemente.

É conhecida — cremos — em todo o Brasil, tendo sido registrada por D. Alexina de Magalhães Pinto em suas Cantigas das crianças e do povo, p. 44, sob o título “Atché!”, mas em versão distanciada, quer na letra quer na música e na maneira de crincar. Cecília Meireles teve ocasião de se referir a esta ronda, pelo menos em dois dos seus preciosos artigos sobre “Infância e folclore” (A Manhã, 25/02/1942 e 15/7/1942). A cantiga que a ilustre folclorista cantava e ouvia cantar, nos seus folguedos infantis, era a “Marianita”, com música igual à de “A moda da carranquinha”, e com estes versos apenas:

Os olhos de Marianita
São negros que nem carvão;
Ó sim Marianita, ó sim,
Ai, ó sim, Marianita, ó não!

É possível, conforme deixa entrever Cecília Meireles, tenha a cantiga procedência lusa, talvez do Alentejo, pela versão que transcreve no seu artigo.

Uma variante próxima da versão capixaba figura no magnífico “Arquivo Folclórico” da Discoteca Pública Municipal de São Paulo, organizado pela folclorista Oneyda Alvarenga. Na sua copiosa e importante coleção, a folclorista de São Paulo registra a seguinte letra da cantiga, recolhida, bem como a melodia, em Varginha (sul de Minas):

Os olhos de Maria
São pretos como carvão,
Assim, oh! Maria,
Assim, oh! Maria,
Assim, oh! Maria,
Oh! Não!
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Em certos lugares do Estado não se canta a Segunda parte da cantiga, finalizando, porém a roda com os mesmos estreptosos “espirros”, como na versão de Cecília Meireles e Alexina de Magalhães Pinto:

Atchim!
Que diabo é isso?
Na panela tem feitiço!

Ou, em rima com o versos “São pretos que nem carvão”:

Atchim!
Que diabo é isto?
Na panela tem feijão!

Outro aspecto a fixar quanto à 2a. parte desta cantiga é que não a encontramos referida em nenhum dos estudos aqui citados, salvo na coletânea Vamos brincar de roda, que a registra como estribilho de outra cantiga, denominada “Atchim”, de que só menciona esta estrofe:

Senhor chefe de polícia,
Inspetor do quarteirão:
Prendei esse maroto
Levai para a correção.

Assinalam as autoras que a cantiga foi assim recolhida no Rio de Janeiro. Quanto à melodia que fixaram, atribuindo-lhe procedência anglo-saxônica, verificamos que se assemelha de tal sorte à recolhida por nós que não hesitamos em afirmar a identidade primitiva de ambas.

Finalmente, devemos consignar que a versão transcrita no “Arquivo Folclórico” adota, de início, o mesmo motivo musical da versão capixaba, com ligeiras variações. Não havendo, porém, na letra, a palavra “Atchim…” etc., aparece, para terminação da estrofe, um final melódico inexistente nas outras variantes aqui citadas.

Modo de brincar: Roda simples, cantada por todas as crianças e “espirrada” nos momentos dos “atchins”. Repete-se até cansar.

[SANTOS NEVES, Guilherme (pesquisa e texto), COSTA, João Ribas da (notação musical). Cantigas de roda. Vitória:Vida Capichaba, 1948 e 1950. (v. 1 e 2).]

Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

João Ribas da Costa foi professor no interior do Estado do Espírito Santo.

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