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R.C.S.C., decoradora

50, natural de Vitória, casou e morou em Belo Horizonte por 10 anos, retornou há 11 anos; mora na Praia de Santa Helena e trabalha no Centro. É formada em Artes Plásticas pela UFES e trabalhou por muito tempo com decoração de interiores. (10.2007)

– Eu acho que o capixaba sabe trabalhar o moderno com o contemporâneo, com o clássico, e ele é criativo e tem bom gosto, sabe trabalhar bem os materiais, sempre achei o capixaba inovador. Já a parte arquitetônica deixa a desejar, seja numa casa na Ilha do Boi ou em qualquer outro bairro. Em Minas, Belo Horizonte, eles são mais criativos nesse aspecto, o arquitetônico. A faculdade de arquitetura daqui é mais recente e talvez isso influenciasse na época. Os caixotes daqui são horrorosos. Tem muito caixote. Esse anexo mesmo que fizeram no Shopping Vitória, pra instalar os novos cinemas, aquilo nada mais é do que um caixote, horroroso, com um visual tão bonito no entorno.

– Vitória deveria ser mais preservada. O Centro principalmente mereceria mais atenção. Prometem e nada acontece. Pela Avenida Jerônimo Monteiro até aqui na Vila Rubim, isso deveria ser preservado. Vitória é uma cidade bonita, não toda. A Ilha do Príncipe não é uma parte bonita, por exemplo. Quanto às ruas, ultimamente tenho achado meio descuidadas, mas não chega a ser uma cidade suja. Quanto à segurança nunca tive problema e olha que ando muito descuidada. Mas a gente lê as notícias sobre fatos do dia-a-dia. Quanto à população de rua melhorou bastante, antigamente era pior, com muitos pedintes. Não sei se estou enganada, mas a gente sente a pobreza diminuir por aqui, comparada principalmente a capitais como Fortaleza, Rio, Brasília.

– Aqui eu vejo muita mistura de gente. Ah, o trânsito, eu acho que ainda é bom, comparado com outras capitais, só complica em determinados horários. Quanto a restaurantes, acho que Vitória evoluiu muito, mas no que se refere ao delivery, ainda há o que se avançar. Mas os restaurantes de uns 10 anos pra cá melhoraram muito, apesar de serem caros, principalmente o peixe. Acho inclusive que o capixaba come pouco peixe porque é caro. No trivial, nas casas de família, é como no resto do Brasil, arroz, feijão e carne, mas pouco peixe.

– Pra mim a cara de Vitória é a Avenida Beira Mar, o porto e o Penedo, o Mestre Álvaro também. Mas o que incomoda mesmo é o pó de minério. E por aqui não tem praia. Em Camburi não dá, tem-se que sair pra Manguinhos ou Praia da Costa. Vida noturna pra mim é um barzinho até dez horas; pros jovens a noite é melhor. Há pouca vida cultural, poucos espetáculos. O negócio é cinema e barzinho, aliás, há pouca música ao vivo. Você não tem o que mostrar pra alguém de fora o potencial daqui. Fosse eu uma guia turística levaria o visitante pro Centro pra ver o Palácio [Anchieta] e sua escadaria, o Centro da cidade, o canal de entrada no porto, os navios passando, tem também as paneleiras de Goiabeiras.

– Quanto à assistência à saúde é razoável, vejo isso porque levo muito meus pais pra vacinações e mesmo conseguir remédios gratuitos; acho que funciona.

– Mas Vitória é uma cidade gostosa com um povo não muito engajado politicamente, mas que tem esporadicamente suas manifestações, como recentemente os estudantes saíram às ruas pra protestar contra a poluição; é um povo quieto, católico, em sua maioria. É uma cidade conservadora. E aqui é ruim de ganhar dinheiro, as coisas são difíceis pro comércio, o dinheiro não corre muito não. As pessoas se viram com pouco, não é como o Rio, por exemplo, que você vê o povo gastando. Aqui é mais amarrado. Tem que ter muita sorte. Mas tem vindo muita gente de fora, talvez melhore.

– E o povo não conhece sua própria história, as escolas deveriam ensinar mais. Tem garoto que mora na Praia do Canto e que nunca foi à Gruta da Onça, não conhece o Centro de Vitória, não sabe nem ir ao Teatro Carlos Gomes. Tinha que partir das escolas. Aconselharia Vitória a se cuidar mais, não se vender, principalmente nessa questão imobiliária; ela deveria se preservar mais, já não há muito pra onde crescer. Pra mim o melhor de Vitória é o mar e, o pior, a poluição.

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