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S.A.D.D.C., radialista

35 anos, radialista, nascida em Vitória e moradora no Centro, onde também trabalha.

– Moro no centrão de Vitória, no coração. Amo morar aqui; moro na Rua Gama Rosa. Você tem quer se identificar com o Centro, pois ele tem suas particularidades. Tem a agitação toda durante a semana e chega no sábado e domingo parece aquelas cidades do Velho Oeste, não tem ninguém, é uma tranquilidade incomparável. Tem população de rua sim, mas nada que incomode e fique te abordando a toda hora. Na praça Costa Pereira, por exemplo, à noite, fica uma concentração de garotada ali, cheirando crack, cola, até é perigoso ali, não arrisco. Polícia nessa hora? Raramente. Durante o dia, assim, assim. Mas tenho que dizer que a população de rua representa perigo. Tenho uma amiga que mora aqui na [rua] Thiers Velloso, no terceiro andar de um prédio, imagina que a garotada escalou o prédio e invadiu o apartamento. É garotada que quer dinheiro rápido pra comprar crack. Tem uma lanchonete ali na subida da [ladeira] Dom Fernando que, sinceramente, ali a barra é outra. A barra pesa mesmo é à noite, na verdade. Mas eu acho a Paria do Canto mais perigosa do que o Centro, mesmo que eu já tenha sido assaltada às 7:30 da noite aqui na [rua] General Osório. Era garoto atrás de dinheiro pro crack. Mas lá também é perigoso, afinal a gente tem que ficar atenta.

– A cidade na verdade já foi mais limpa, quando era aquele outro prefeito, Luiz Paulo, era bem mias ajeitadinha. Na Gama Rosa mesmo, perto da rua Sete, tem um acúmulo de lixo permanente, que não existia antes; não acaba nunca, eles tiram, mas continua.

– Ando muito a pé pela cidade, frequento os barzinhos… Ah, show de bola aquele barzinho do Gegê na [rua] Graciano Neves. Você vê de tudo lá: músico, poeta, jornalista, advogado, gari, uma mistura muito boa lá. Pela cidade vejo mais gente idosa do que jovem, muito mais. E o comércio é ótimo. Que shopping que nada. A gente tem tudo aqui e você pode fazer a pé. Quer uma roupa fina, legal, tem a Castel na [rua] Graciano Neves que não deve nada a butique nenhuma. Tem lojas esportivas. Tem academias, hidroginásticas, fisioterapia, correios, bancos, supermercados. Ah, cinema, isso tem não.

– A gente tinha por aqui um hospital que era referência, que era aquele São José, agora está desativado. A gente tem que sair da cidade para qualquer atendimento, principalmente se você tem plano médico. Tem postos de saúde também, o Centro de Saúde, tem a Associação [dos Funcionários Públicos] lá em cima, tem em Santo Antônio.

– Essa história de que os imóveis aqui são baratos é coisa do passado. Um [apartamento] dois quartos, com condomínio, tá na faixa de 700, 750 reais [de aluguel]. Com esse dinheiro é preferível tentar um financiamento e comprar um imóvel. Os próprios corretores puxam os preços para cima.

– Tem turista por aqui sim, principalmente com esses navios que passam. Eles ficam vendo a Catedral, o visual do porto, o Palácio. Agora isso de revitalização do Centro, não vejo nada de concreto acontecer. Tão reformando a praça Costa Pereira, bacana, vamos ver como fica, mas não passa disso. Parece que não acontece nada.

– Por aqui tem muita diversidade no aspecto de religião. Antigamente era só católico, agora tem de tudo, evangélicos. Até as igrejas católicas que estavam fechadas, agora estão funcionando, como a São Gonçalo, a do Carmo, o movimento cresceu nesse aspecto, tem havido mais missas. Tem havido muita festa na rua ligada às igrejas de dois anos pra cá. Tem aquela Festa da Penha que é fantástica, com a Romaria dos Homens, vem gente de fora só pra isso. Tem havido muita movimentação no morro da Piedade, na Fonte Grande, subindo a rua Sete, uma retomada das tradições, tem aquele Renato Santos que tá fazendo muita coisa bonita lá.

– Esporte: a cara de Vitória é o remo. Agora, tem gente de fora que mora aqui que se assusta quando se fala que tem futebol. Agora pra mim, o que gosto de fazer é subir a [ladeira] São Bento, pela [rua] Alziro Viana, tem um mirante lá em cima, lá é maravilhoso. O caminho também é fantástico, o casario, a ladeira Santa Clara, são lugares que eu amo.

– O capixaba é diferente, só posso dizer isso. Não é mineiro, não é carioca nem baiano. O capixaba é esquisito. De todo mundo ele pega um pouco. O sotaque dele é diferente, não é tão carregado. Gosta de uma moqueca, uma rabada no botequim, um torresmo, uma batidinha de fruta, uma caipifruta, tem também o capeta famoso, cachaça com canela e gengibre. Ele é muito volúvel, é excessivamente de moda. Muda muito. Você vê, Zezé de Camargo e Luciano vieram fazer um show aqui perto, chegando em Domingos Martins, e o show ficou vazio. Você entende isso? Capixaba é esquisito mesmo, uma caixa de surpresas, você não pode confiar nele. Ele é muito inseguro também, sem opinião própria. Sou radialista. Engraçado como aqui existem programas de rádio e que o locutor fica falando…  “Ouvimos a capixaba fulana…” Que coisa! Lá fora alguém fica falando “ouvimos a gaúcha Elis Regina, ou ouvimos a paraense Fafá de Belém”? Que coisa, afinal é uma cantora brasileira cantando música brasileira. E são poucos profissionais. No meu programa era mais fácil entrevistar uma Elba Ramalho e outros do que o pessoal daqui, que fura, atrasa etc. O capixaba não valoriza muito o que é seu não, ele é diferente. Não vê o Roberto Carlos, o Menescal, fazem questão de dizer que não são daqui. Essa é a diferença.

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