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T.S.V., estudante de História

23 anos, estuda História na UFES, trabalha no Centro e mora há apenas um ano em Jardim Camburi. É nascida na Serra, mas sempre estudou e trabalhou em Vitória. (06.10.2005)

– Gosto daqui, me movimento bem, acho que a qualidade do transporte de Vitória é boa, mas o Transcol é péssimo. O trânsito, no horário que eu venho, tipo 7 horas, é bom. Mas o motorista daqui é muito ignorante e o pedestre também. Furam sinal, atravessam fora da faixa, ninguém respeita. Mas eu adoro Vitória, excelente pra se morar, não é muito grande, com qualidade de vida, uma cidade muito bonita. Adoro a parte do porto, principalmente na altura do Saldanha, isso me encanta. Você tá andando e vê um navio enorme perto de você. Agora o Centro, tem-se tentado revitalizá-lo e preservá-lo, o seu patrimônio histórico. Tem o Instituto Góia que tem atuado com oficinas pra menores pra restauração de prédios. O Centro não morreu e seu comércio é muito ativo, tem comércio popular que chama o povo pra cá, isso é positivo. Agora, pra se morar é mais complicado. Eu não moraria aqui. Os pontos de ônibus são muito distantes das residências e depois que fecha o comércio é impossível ficar andando pelo Centro, é muito perigoso. Tem muito prédio abandonado por aqui Tem projeto pra moradias populares, ocupando esses prédios, mas você tem que ter renda mínima de três salários, aí o pessoal de baixa renda não tem acesso. A cidade é mais limpa nos bairros mais elitizados, na zona norte, aqui no Centro não. Tem muita população de rua por aqui, já não tem criança, as crianças de rua ficam mais pela Praia do Canto. Aqui no Centro, você sai 6 horas e já vê prostituição nas ruas, aqui na rua General Osório, no Parque Moscoso. No meu bairro também tem muita. Na beira da praia tem muito travesti, meninas. O pessoal tolera meio forçado. As pessoas que moram lá não têm como se livrar disso.

– O capixaba é muito preconceituoso. Preconceito de raça e classe social. Pior do que a raça é o social. Você vê no dia-a-dia, como as pessoas falam, a maneira de tratar o colega: negrinho, pobrinho, você mora mal, enfim, são pequenos detalhes que caracterizam o preconceito. Eles conversam entre si, a gente nota.

– Eu não me considero classe média, não é porque moro em Jardim Camburi. Todo fim de semana estou em Valparaíso, na casa de minha mãe, pois eu divido o apartamento com mais três amigas. Talvez até Laranjeiras não haja assim muita diferença, mas depois a diferença do povo de lá com o de Vitória é ferrenha. Tem gente que nunca foi ao Shopping Vitória, nunca foram à praia, é interior mesmo e tão perto da gente. Por aqui temos a parte histórica muito interessante pra visitar. Eu vejo turista mais no verão e eles só têm isso pra ver, o porto. Há descaso do governo em criar atrativos. Falta propaganda, incentivo, aproveitamento do nosso potencial. E o capixaba é meio fechado, sabe? Pra receber turista ele deveria ser mais orientado, não sabe dar informação, nem o comércio aqui sabe tratar o turista. Parece que eles querem sempre passar a perna neles, principalmente se for estrangeiro. Pra mim, pra minhas colegas, também não tem muita coisa, é barzinho, praia, e as coisas são caras. Acabo ficando em casa mesmo, fazendo churrasco.

– O capixaba gosta muito de comer churrasco, o que ele mais come. Também tem a influência dos italianos. É churrasco e massa. Capixaba gosta de peixe, mas é meio caro. Torta então. Antigamente a torta era feita com as partes que sobravam, e o povo adaptava. Nos dias de hoje nem dá mais, acabam inventando outras coisas. Repolho e sardinha no lugar do bacalhau. Agora, o custo de vida em geral é razoável, dá pra viver. O que pesa mais no bolso é o transporte e o lazer. A gente tem que selecionar. Até pra alugar um DVD, pra ficar em casa, ainda assim é meio caro. É por isso que você vê tanto camelô no meio da rua, vendendo as coisas piratas. Em geral o pessoal gosta de um CD de pagode, forró, MPB. Esse negócio do Vital acho que não traz tanto lucro pra cidade assim. Lá em Jardim Camburi a gente fica três dias ilhados. Tenho que fugir pra Serra. Os assaltos aumentam muito. E a cada ano vem crescendo mais. Gera muito problema.

– Aqui em Vitória, os postos de saúde são bons, de boa qualidade. As escolas do município também são boas. O investimento da Prefeitura nessa questão da educação é alto, o professor tem material pra trabalhar. Já a segurança é razoável, podia ser melhor trabalhada. A cidade é perigosa, já vi muito garoto roubando na cidade. Não me sinto segura andando em lugar nenhum. Na UFES, no campus, me sinto um pouco mais segura. Chego em casa tarde, perto de 11 da noite, o comércio já está fechando, é perigoso sim. Vejo droga já na mão da garotada, já desde cedo. Acho que a maconha é mais comum, pois parece ser mais barata. Em show e festa sempre tem, na rua também, outro dia vi lá na ponte da Passagem, à tarde. Esse negócio de cocaína e extasy é mais pra classe alta, parece que é muito caro. Maconha até se planta em casa.

– Festa popular… Acho que Vitória tem o congo. Nos bairros de Maruípe, Goiabeiras. A Festa da Penha também é marcante. Acho que as festas dos municípios vizinhos se fundem, não se caracterizam de uma só cidade. O capixaba desdenha um pouco suas coisas, prefere as referências do Rio e São Paulo, talvez por um pouco de influência da mídia. E ele não conhece sua própria história. Ele fica um pouco isolado. Vê como os italianos cultivam suas histórias no interior. Acho que falta informação nas escolas também, uma educação pensando um pouco no micro, nas coisas daqui. Falta no currículo. De 1ª à 4ª série, a criança trabalha um pouco com isso, mas há uma carência neste aspecto. Eles falam muito sobre os jesuítas, a colonização italiana, alguma história, mas da 5ª série em diante a criança não fica sabendo de mais nada, acabam esquecendo. Por isso, acho que falta essa referência aqui. Agora, tem escolas e escolas. Tem uma que tem biblioteca, outras um armário com livros empilhados.

– O esporte aqui mais praticado é o futebol, na rua, na escola, na praia. É o mais popular. O resto demanda dinheiro, a vela, a natação, etc. Com uma bola e uma turma, já se tem tudo. Um nome que vem à lembrança nessa área é o de Neymara Carvalho, que não é de Vitória, mas acaba levando o nome da cidade. Gente famosa tem o Rubem Braga, o Dionísio Del Santo, tem o Manimal.

– O capixaba ainda está sendo incluído nessa área da informática. Bibliotecas de bairro, centros comunitários, escolas municipais e estaduais, já têm muitos computadores, na Biblioteca Central da UFES também. E temos muitos jovens por aqui. Acho que devido à violência, o idoso prefere ficar mais em casa, acaba não participando muito da vida da cidade. Pra terceira idade a prefeitura tem uns programas especiais, na área de esporte, de saúde, a Igreja também oferece alguma coisa. Temos bons parques e jardins, mas o capixaba não usufrui tanto assim. Ah, tem essa coisa do capixaba não colaborar muito com a limpeza. Abriu uma balinha, lá vai papel pro chão, às vezes até de carro mesmo eles jogam as coisas, papel, latinha.

– O forte do comércio aqui é a prestação de serviços. Temos que conciliar o progresso com a qualidade de vida. Desenvolvimento sustentável. A questão da poluição, trânsito. O capixaba se mobiliza muito pouco. Só quando o problema atinge diretamente a pessoa é que ela começa se mobilizar, mesmo assim nem tanto. As pessoas em princípio só vêem o progresso que vai chegar, no caso do aeroporto, por exemplo, mas não vêem as consequências, só reclamam quando o problema acontece, aí é mais difícil. Crescer é importante, mas com consciência, com responsabilidade. Falta a Vitória um pouco da interação da população com a cidade.

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