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U.C.S., pastor evangélico

Bairro onde mora: Mata da Praia, Vitória
Bairro onde trabalha: Praia do Canto, Vitória
Profissão: pastor evangélico
Naturalidade: Governador Valadares, MG
Idade: 41
Tempo de residência em Vitória: 23 anos
Estado civil: casado
Número de filhos: 3

Você gosta de viver, morar e trabalhar em Vitória?

– Gosto muito. Quando me mudei para Vitória, vinte e três anos atrás, o primeiro ano foi traumático devido ao estilo de vida do capixaba, mais fechado que o mineiro. Achei o capixaba muito fechado. Com o tempo me adaptei, e acho que assimilei até bastante esse estilo de vida. Hoje estou completamente adaptado e me sinto em casa aqui.

– Vitória é um lugar muito bom para se trabalhar, porque é uma capital com jeitinho de interior. E eu trabalhei dezessete anos numa empresa privada em Vitória e há quatro anos estou aqui como ministro religioso. E era aqui na Praia do Canto, e eu morava também na Praia do Canto, e então eu saía de casa para trabalhar a pé e voltava a pé. Hoje eu moro na Mata da Praia e em dez minutos de carro venho trabalhar e volto, engarrafamento em Vitória demora trinta minutos, você se atrasa trinta minutos. Então é um lugar privilegiado para se morar e trabalhar.



O que mais lhe agrada em Vitória?

– Duas coisas. O clima, que faz muito bem, e a aparência física, o ambiente, o relevo, a baía, a praia, essa composição montanha/mar, isso dá um ar pra Vitória saudável.

Gosta mais do dia ou da noite em Vitória?

– Gosto mais do dia porque sou mais ligado a esporte, saúde, e à noite prefiro estar em casa.

Relação social

– Eu diria que tenho uma relação social intensa, até pela minha profissão, que me coloca em contato com todo tipo de pessoa e não é um contato meramente formal, ele tem um caráter íntimo, de proximidade, de compartilhar, e profissionalmente eu tenho encontrado um campo de trabalho muito bom. O Espírito Santo é um estado que tem uma população evangélica grande, mas é um estado também que precisa muito da mensagem que eu creio que carrego comigo, que é a mensagem evangélica. Então no meio das pessoas evangelizadas eu gozo de muitas amizades e no meio daquelas que eu percebo não têm tanta afinidade com o Evangelho eu tenho gozado de muitas oportunidades em meios acadêmicos, de forma que eu me sinto bem e sinto que a minha profissão, a minha atividade, aquilo a que me dedico, tem tido um crescimento aqui nesta cidade. Eu também exerço a atividade de professor. Durante aproximadamente quatro anos eu lecionei administração de empresas e recentemente por uma questão de agenda eu abandonei, estou lecionando ainda, só que na área teológica, especificamente liderança. Mesmo depois de ter saído da profissão diretamente do meio acadêmico de administração ainda continua [sendo] um ambiente onde tenho tido oportunidade de trabalhar. Então sempre me senti bem e bem aceito no ambiente profissional em Vitória.

A minha formação tem duas vertentes. A minha primeira formação é teologia, em que me graduei e estou terminando o mestrado. A minha segunda formação é administração de empresas onde me especializei e tenho um mestrado por terminar. E nesse meio tempo eu tenho me dedicado mais nos últimos anos ao estudo de liderança e tive oportunidade de obter uma bolsa para realizar estudos fora do país nessa área.

Fácil/difícil

– Eu considero fácil. É um ambiente que me dá qualidade de vida, me deixa próximo às pessoas, não me sinto só nem distante das pessoas aqui. E a gente consegue conciliar hoje a sua agenda, que é uma coisa complicada, num dia você consegue ter o seu lazer, a sua atividade física, o seu trabalho, e ainda almoçar com a família. Isso enriquece muito a vida da gente.

Paisagem

– Reparo demais na paisagem de Vitória. Tem um ponto em Vitória que eu sou apaixonado, que é a região quando você sai da ponte de Camburi, entrando na Praia do Canto, tem o Iate Clube, a Praça dos Namorados, a Praça dos Desejos, que tem um monumento à Grécia, que eu não sabia, li recentemente que tem esse monumento ali, e a Curva da Jurema, e passando por baixo da Terceira Ponte. Então o mar e o verde dos coqueiros ali, você olha isso em contraste com os prédios da Praia do Canto, isso dá uma composição muito bonita. Essa região me fascina. Gosto muito.

Participa de tradições

– Tenho conhecimento da tradição das paneleiras. Inclusive ficam perto da minha casa, não é muito longe, e eu já estive lá, já visitei, já conversei, desde que me mudei para Vitória, já fiz isso algumas vezes. Nas primeiras vezes era um lugar muito artesanal, com muitas carências, hoje é um lugar mais estruturado. Das tradições em Vitória essa é a que eu mais conheço, na verdade me envolvi e acompanhei durante esses anos todos.

Reconhecer

– Eu tenho um privilégio nesse aspecto. Por ter dado aula e estar à frente muitas vezes na Igreja e falando em formaturas, as pessoas me vêm. Acabo tendo o privilégio de ser reconhecido mais do que reconheço. Mas sempre que sou reconhecido procuro me informar de quem se trata para fazer ali um ponto de referência. Isso tem acontecido no shopping, na praia, nas caminhadas, e isso me faz muito bem.

Participa de grupos

– Está totalmente dentro da minha profissão, e no caso o tipo de reunião é a religiosa cristã da Igreja Batista, que se resume nas grandes reuniões que envolvem toda a Igreja e em diversas reuniões de pequenos grupos como orientador de grupos e como participante de grupos pequenos de comunhão e de oração. Fora da Igreja eu participo de grupos de esporte, futebol, e de interesses comuns. E como eu trabalhei 17 anos numa empresa eu procuro manter o contato com os antigos colegas e vez por outra a gente se encontra para almoçar e lembrar as coisas e atualizar as informações.

Idosos e crianças

– Esse é um ponto interessante. Eu vou falar, mas posso confessar que o meu conhecimento não é profundo. Eu percebo em Vitória uma grande quantidade de crianças em estado de marginalidade. Ontem à noite, por exemplo, eram mais ou menos onze horas, e uma menina que não tinha mais de dez anos estava vendendo amendoim. Isso retrata que a família dela não tem condições de mantê-la em casa. O idoso eu creio que tem uma assistência melhor que a criança. Já visitei asilos em Vitória e encontrei asilos em boas condições, mas já visitei casas de assistência à criança e não encontrei aí a mesma qualidade. Eu creio que os dois sejam focos que necessitam de atenção, mas talvez as crianças mais do que os idosos.

Fácil fazer amizade, arranjar namorada.

– Quando eu cheguei a Vitória eu tive um pouco mais de dificuldade de fazer amizade pelo estilo do capixaba. Mas de arranjar namoradas eu não tive dificuldades. O mérito não era meu, mas aconteceu. E eu não vejo as pessoas se queixando disso. Mas amizades, amizades mesmo, leva-se tempo para fazer, e a característica do capixaba é ser mais fechado, a gente não tem o hábito de a casa estar aberta para receber e ir na casa das pessoas. Amizade é uma coisa um pouco mais trabalhosa, mas, uma vez você tendo um círculo de relacionamentos, não tenho visto ninguém da juventude reclamando que Vitória seja um lugar que complique a questão amorosa, sentimental.

Relações familiares

– A minha relação familiar intensa é com a minha família mesmo, esposa e filhos. Tenho dois irmãos que moram em Vila Velha, mas a gente se fala com mais frequência por telefone do que pessoalmente. Tem os pais da minha esposa, que eu visito esporadicamente. Mas eu diria que as minhas relações acontecem mais no ambiente familiar cristão, que são os meus irmãos em Cristo, as pessoas da mesma fé. Até porque parte da minha família de sangue está distante.

Saúde

– Saúde é um problema no Brasil, e não é diferente em Vitória. Por um lado, Vitória é um lugar que ajuda você, se você tem alguma condição de vida, a ter saúde, pelo ambiente. Creio que temos bons hospitais e um quadro médico [bom]. A qualidade da medicina praticada no estado é boa, não deixa dever muito exceto pra centros especializados. Agora o sistema de saúde para a população mais carente, como em todo o Brasil, é bastante deficitário. A minha família tem plano de saúde há mais ou menos vinte anos.

Educação

– Eu posso fazer uma análise comparativa com o meu estado de origem. Quando eu cheguei a Vitória eu havia terminado o meu segundo grau, e percebi na minha preparação para o vestibular e em meu contato com colegas que em Minas eu tinha recebido um nível de ensino mais consistente. Com os anos, a partir de sobrinhos que vieram de lá para cá, pude perceber a mesma coisa. O desempenho inicial deles aqui foi muito elevado devido ao nível que eles recebiam em Minas. A estrutura educacional do estado tem sido muito bem cuidada, me parece, por exemplo, que Vitória cuida bem dos professores e das escolas. Talvez haja carência de uma reavaliação curricular, oferecendo um ensino que exija mais e dê mais consistência para os alunos. Meus filhos sempre estudaram em escola particular.

Segurança

– Segurança é outro ponto crítico. Vitória faz parte de um eixo que tem chamado a atenção para o estado do Brasil todo. O Espírito Santo é um estado que é atrativo. A violência no Rio reflete em Vitória. Quando eu cheguei a Vitória, 23 anos atrás, o problema da violência não era nada grave. Havia uma violência normal urbana. Hoje a violência está tomando proporções parecidas com estados como o Rio de Janeiro e eu creio que as autoridades precisam encontrar uma fórmula de tratar isso. Eu creio que é grave o problema da segurança.

Saneamento

– O saneamento tem melhorado muito desde mais ou menos quinze anos, quando eu vim morar na Praia do Canto, e eu vi acontecerem nesse bairro muitas iniciativas da prefeitura como a instalação de filtros biológicos, e existe hoje uma legislação que exige isso dos prédios. Então é um problema a caminho de solução. Tem melhorado. Recentemente vi um dado que 70% de todo o esgoto de Vitória é tratado. E há o projeto para os próximos quatro ou cinco anos de chegar à casa dos 80%.

Lazer

– O que uma cidade oferece em termos de locais de lazer, como praias, clubes; nesse ponto Vitória tem um ambiente de lazer natural, que é a praia, que tem sido bem cuidada pela prefeitura. Camburi nos últimos anos melhorou muito e hoje é uma referência para as pessoas que moram em Vitória. No bairro em que moro, nós temos boas praças, quadras, o ambiente para o lazer é muito apropriado, tem o parque da Pedra da Cebola. Tenho visitado bairros como Santo Antônio, como São Pedro, tenho visto algumas melhoras principalmente na orla, ali no manguezal. Mas eu diria que nos bairros com menos estrutura haja ainda uma carência de investimentos nessa área. Agora, há um outro tipo de lazer que é o lazer noturno. Teatro, por exemplo, cinema. Os cinemas têm melhorado com os shoppings, o de Vila Velha, que é bem próximo, atende o público de Vitória, o Shopping Norte-Sul representa uma opção a mais, mas sinto carência em Vitória de cultura. Teatro. Os teatros em Vitória não são bem localizados, fica complicado você ir a um teatro por causa da segurança. E a oferta de shows é muito pequena, então, quando tem, você tem de disputar o lugar, e eu prefiro não ir, porque o desgaste é grande. Shows com cantores não me atraem muito, mas já fui algumas vezes, e não diria que mas cai na mesma situação que teatro. Os locais não são muito apropriados e a oferta é pouca, e por isso quando acontece, a demanda é muito alta e você tem problemas de segurança, conforto, estrutura e outras coisas. Meu lazer costuma ser praia e cinema. Gosto muito de ambos.

Transporte

– Já há muito tempo que eu tenho o privilégio de ter carro próprio, e gosto de caminhar. Quando eu morava na Praia do Canto meu transporte era caminhar. Agora muito raramente me arrisco a vir andando, é uma boa caminhada da Mata da Praia até aqui [à Praia do Canto], e a maior parte das vezes venho de carro. Já usei muito transporte coletivo. Algumas vezes ainda uso. Moro num lugar privilegiado e quando preciso usar não tenho tido o mínimo problema. Ele é confortável, é limpo e tem uma regularidade boa. Mas a moça que trabalha na minha casa, por exemplo, já sofre um pouco mais. Ela vem de outro município, mora na Serra e usa o sistema Transcol.

Habitação

– Os dois lugares em que eu morei em Vitória são lugares privilegiados, Praia do Canto e Mata da Praia. Então tenho um bom nível de habitação. A Praia do Canto hoje se tornou um bairro extremamente verticalizado, a oferta é grande de imóveis para habitação. Mas creio que o problema da habitação em Vitória é que os lugares com estrutura, que oferecem melhor qualidade de vida, nem sempre têm preço permissivo até mesmo à classe média. Mas não acho que haja uma deficiência habitacional em Vitória. Pelo menos não percebo.

Trabalho

– As oportunidades de trabalho têm melhorado bastante. Mas, com a melhora, Vitória tem recebido muitos novos moradores. Com a descoberta, agora, de petróleo no estado, o indicativo é de que isso vá crescer mais. Isso coloca em risco todos os itens que hoje estão bem equilibrados ou senão a caminho de solução. Talvez esse seja o maior desafio administrativo de Vitória: como administrar esse possível aumento populacional. E o trânsito de pessoas esporádicas aqui em Vitória nos últimos quatro anos levou à construção de diversos hotéis na região de Praia do Canto e Camburi. Há mais pessoas vindo a Vitória. O trânsito de Camburi já fica dificultado. No Centro, eu raramente passo por lá, mas às vezes preciso ir em algum momento em que o trânsito está em seu horário habitual, e é muito complicado.

Poluição sonora

– Eu não sofro com isso. Mas trabalhei uma época no centro de Vitória e aí sofria com isso. Você sai para almoçar no centro de Vitória, o barulho de veículos, buzinas, motocicletas, anúncios, era complicado. As campanhas eleitorais hoje estão mais civilizadas, isso tem ajudado. Mas chegando a época do pleito costuma-se fazer muito barulho. Mas é rápido, é quando você passa no ponto onde está acontecendo. O Vital houve um tempo em que acontecia aqui na orla de Camburi, mais perto da ponte, e era uma tremenda angústia. Hoje ele está um pouco mais afastado. O som dele ainda chega à minha residência, mas é pouco. Todavia, eu penso que o Vital talvez precise ser repensado em alguns aspectos, como o som, a segurança, não se divulga muito a questão dos incidentes que acontecem nele, mas a gente sabe que acontecem. E não há um respeito efetivo à lei do silêncio. Porque quando o vizinho extrapola os limites da lei, a gente na verdade não consegue denunciar e ter um tratamento disso. Eu já fui incomodado não poucas vezes nessa situação e liguei e procurei uma resposta, e não se fez nada, não consegui resposta alguma, você fica entregue a esperar a festa acabar para você poder dormir.

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