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“Viste, Manoel da Hora, o passo que eu dei agora?”

Esse era um dos ditos que ouvíamos à querida informante, quando, crianças, praticávamos qualquer traquinada a que se seguia um imprevisto qualquer.

Pelo emprego em tais ocasiões, é de supor-se que, desse dito rimado, se usava, então, como elogio ou reprimenda, a qualquer ato ou gesto.

Também me lembra que nós, garotos, o dizíamos, jubilosos e “prosas”, ao praticarmos qualquer ato façanhudo — um salto mais alto que os outros, um “cascudo” bem dado, o acerto exato de uma pedrada num poste ou noutro alvo qualquer.

No entanto, não pudemos, até agora, localizar a expressão, como frase-feita, em nenhum livro do gênero.

Fomos depará-la, todavia, como “jogo de salão”, em Minas Gerais. É o que nos informa a professora Angélica de Rezende Garcia, em seu precioso documentário Nossos avós contavam e cantavam. O jogo é mais ou menos assim: sentam-se em roda os participantes do folguedo, menos um, que fica de pé, no centro, “fazendo de ‘seu’ Manuel”. Levanta-se, então, um deles e lhe pergunta: “Viu, seu ‘Manuel da Hora'”, o pulo (ou passo) que dei agora?” Tal indagação é feita com um pulinho ou passo à frente, mas sem se rir. “Se acaso, o perguntador não se pudesse conter, e risse, teria de pagar uma prenda que ia para o chapéu de “seu Manuel” (p. 46).

Consta-nos a existência atual do brinco também em São Paulo, embora de forma um tanto diversa, mas também como “jogo de salão”.

Aqui no Espírito Santo — a não ser a expressão rimada como simples dito — nada pudemos encontrar acerca de tal folguedo folclórico.

[Alto está e alto mora — Nótulas de folclore. Vitória: edição do autor, 1954.]

Guilherme Santos Neves foi pesquisador do folclore capixaba com vários livros e artigos publicados. (Para obter mais informações sobre o autor e outros textos de sua autoria publicados neste site, clique aqui)

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